Posted On 2019-07-28 In Francisco - iniciativos e gestos, Francisco - Mensagem, Igreja - Francisco - movimentos

Migrantes -“ símbolos de todos os abandonados”

PAPA FRANCISCO, MISSA COM REFUGIADOS, María Fischer •

Numa Basílica de São Pedro cheia de espírito de solidariedade para com os 250 imigrantes, salvadores e sobreviventes do cemitério do Mediterrâneo, o Papa Francisco lançou no dia 8 de Julho, aniversário da sua histórica viagem a Lampedusa em 2013 – a primeira viagem programática do seu pontificado – um pedido renovado e forte para ajudar esses “símbolos de todos os abandonados” que são as pessoas que migram. “São em primeiro lugar e acima de tudo seres humanos”, disse ele, em meio da tensão que se vive na Itália pelas divergências entre o governo e as ONG que resgatam pessoas no alto mar. —

Sempre houve pessoas que arriscaram as suas vidas atravessando o mar, nadando, em lanchas, em barcos. Os “boat people” do Vietname, os jovens alemães que se lançaram no Mar Báltico nos tempos do comunismo, os mais de 900 judeus que deixaram a Alemanha em 1939 a bordo de um cruzeiro de luxo, o SS St Louis e que esperavam chegar a Cuba e de lá viajar para os Estados Unidos. Em Havana, foram enviados de volta para a Europa, onde mais de 250 deles acabariam mortos pelos nazis.Os cubanos tinham decidido rejeitar a maioria dos vistos, provavelmente por medo de serem inundados por mais imigrantes em fuga da Europa. O capitão então dirigiu o navio para a Flórida, mas as autoridades americanas também se recusaram a permiti-lo atracar, apesar de pedidos pessoais ao próprio presidente, Franklin Roosevelt. Parece que ele também estava preocupado com o afluxo maciço de imigrantes…

“Neste sexto aniversário da visita a Lampedusa, penso nos «últimos» que diariamente clamam ao Senhor, pedindo para ser libertados dos males que os afligem. São os últimos enganados e abandonados a morrer no deserto; são os últimos torturados, abusados e violentados nos campos de detenção; são os últimos que desafiam as ondas dum mar impiedoso; são os últimos deixados em acampamentos de acolhimento (demasiado longo, para ser chamado de temporário). Estes são apenas alguns dos últimos que Jesus nos pede para amar e levantar. Infelizmente, as periferias existenciais das nossas cidades estão densamente povoadas de pessoas que foram descartadas, marginalizadas, oprimidas, discriminadas, abusadas, exploradas, abandonadas, de pessoas pobres e sofredoras. No espírito das Bem-aventuranças, somos chamados a acudir misericordiosamente às suas aflições; saciar a sua fome e sede de justiça; fazer-lhes sentir a solícita paternidade de Deus; mostrar-lhes o caminho para o Reino dos Céus. São pessoas; não se trata apenas de questões sociais ou migratórias! «Não se trata apenas de migrantes!», no duplo sentido de que os migrantes são, antes de mais nada, pessoas humanas e que, hoje, são o símbolo de todos os descartados da sociedade globalizada”, diz o Papa Francisco, que parece gritar a ouvidos moucos numa Europa que está em pânico com um afluxo maciço de imigrantes.

Mas a questão do tema dos migrantes em busca de uma vida livre de pobreza extrema, perseguição, guerra e fome não é apenas uma questão europeia. A maioria dos refugiados vive em países como Uganda, Jordânia, Ruanda… Há aqueles que vão para os Estados Unidos, partindo dos países pobres e politicamente instáveis da América Central, há aqueles que fogem da Venezuela e estão presos nas fronteiras dos países sul-americanos. “São pessoas, não apenas questões sociais ou migratórias! “Não se trata apenas de migrantes”…

 

Não se trata apenas de migrantes

Não se trata apenas de migrantes. No maior campo de refugiados do Uganda, um refugiado do Burundi fundou Schoenstatt. Mais de cem pessoas já selaram a sua Aliança de Amor com a MTA.

Não se trata apenas de migrantes. Até hoje, 2.800 refugiados foram salvos pela Comunidade de Sant’Egidio, que os ajudou a encontrar a possibilidade de inserção na Europa. Estes 2.800 refugiados encontraram na Comunidade de Sant’Egidio um caminho legal alternativo, partindo em aviões directamente dos campos de refugiados para chegar à Itália, já com seus vistos e evitando a viagem da morte: atravessando o Mediterrâneo em jangadas, e evitando pagar aos traficantes de seres humanos que “os ajudam a atravessar o mar”. Desde 2015, graças à acção dos corredores humanitários da Comunidade de Sant’Egidio, chegaram mais de 1.650 refugiados, a maioria sírios, que perderam tudo em Damasco e em Jons. São muçulmanos e cristãos. Para escolher estas famílias, a Comunidade escolheu aqueles que tinham alguma fragilidade social, independentemente da sua religião. Da Etiópia chegaram 498 refugiados, a maioria deles da Eritreia, que fugiram do país, pedindo asilo político no país vizinho. Depois da Itália, outros países europeus como a França, a Bélgica e Andorra juntaram-se a esta proposta dos corredores humanitários sempre com a Comunidade de Sant’Egidio.

 

“Retorna espontaneamente à mente a imagem da escada de Jacob. Em Jesus Cristo, está assegurada e é acessível a todos a ligação entre a terra e o Céu. Mas subir os degraus desta escada requer empenho, esforço e graça. Os mais frágeis e vulneráveis devem ser ajudados. Apraz-me pensar que poderíamos ser, nós, aqueles anjos que sobem e descem, pegando ao colo os pequenos, os coxos, os doentes, os excluídos: os últimos, que caso contrário ficariam para trás e veriam apenas as misérias da terra, sem vislumbrar já desde agora algum clarão do Céu”, disse o Papa Francisco.

“Trata-se, irmãos e irmãs, duma grande responsabilidade, da qual ninguém se pode eximir, se quiser levar a cabo a missão de salvação e libertação na qual fomos chamados a colaborar pelo próprio Senhor. Sei que muitos de vós, chegados apenas há alguns meses, já estais a ajudar irmãos e irmãs que chegaram depois. Quero agradecer-vos por este estupendo sinal de humanidade, gratidão e solidariedade”.

Texto integral da Homilia do Papa Francisco, 8/7/2019

 

Original: espanhol (14/7/2019). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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