Posted On 2018-07-17 In Igreja - Francisco - movimentos

Sentir-nos-emos em família com as palavras que o Papa nos dirige

Um comentário à Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, por Juan Enrique Coeymans, Chile •

A recente Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate do Papa Francisco sobre o chamamento à santidade no mundo actual, soa tão familiar aos filhos de Schoenstatt que, “o que se dá por sabido, é esquecido” como diz o provérbio.

Gaudete et exultate

Gaudete et exsultate

Para desmentir os comentários de jornalistas que não estão muito informados e que dizem que o Papa Bento era muito intelectual e que o Papa Francisco não tem muita formação teológica, a primeira coisa que nos chama a atenção é, precisamente, a profundidade teológica, bíblica e patrística do texto escrito pelo Papa. Tem 125 citações bíblicas, de santos e dos Padres da Igreja num texto de 40 páginas. É um encaixe de citações que enriquece o pensamento do Papa, que nunca deixa de fazer descer à terra os conteúdos teológicos, no seu desejo, por certo muito lógico, que as pessoas vejam a aplicação, na vida, dos textos que publica.

A reflexão que gostaria de partilhar, fá-la-ei de acordo com os cinco capítulos que contem a Exortação.

O chamamento à santidade e o Ideal Pessoal

O primeiro capítulo intitula-se “O chamamento à Santidade”, que nos lembra o que, definitivamente, ficou esclarecido, depois do Concílio Vaticano II: Todos os cristãos estão chamados à Santidade. O aspecto interessante deste capítulo é, que o Papa Francisco insiste em várias partes, na necessidade de que, cada um, concretize a santidade segundo o desejo de Deus que, é particular e especial para cada pessoa. É todo o programa do Ideal Pessoal que o nosso Pai-Fundador, José Kentenich, desenvolveu na sua ascética e que, por vezes, na Família de Schoenstatt, não lhe é dada a importância que merece. A este respeito diz o Papa:”  Isto deveria entusiasmar e animar cada um a dar o melhor de si mesmo para crescer rumo àquele projeto, único e irrepetível, que Deus quis, desde toda a eternidade, para ele: «antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei» (Jer 1, 5). É importante acentuar que, este Ideal Pessoal (o Papa não lhe chama assim) deve integrar, não somente um ideal do ser mas também, um ideal de missão. Estamos chamados a ser alguma coisa, para uma tarefa concreta, para uma missão (a ordem do Ser determina a ordem do agir N.T). A santidade é ser para Deus e para os outros e não para si próprio. O Papa diz: Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho”.

Os inimigos da santidade e o mecanicismo

O segundo capítulo refere-se a “Dois subtis inimigos da Santidade”. E são eles: o gnosticismo e o pelagianismo. No que diz respeito ao gnosticismo (que não é o que actualmente se denomina ser agnóstico, que são os que não negam nem afirmam a existência de Deus) mas que é a tentativa soberba de querer compreender tudo e, retirar da doutrina o mistério, o Papa diz que conduz à soberba, que desencarna a fé e, no fim, preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem a Igreja e uma Igreja sem Povo”. É uma sobrevalorização da intelectualidade, de reduzir a fé a uma doutrina. O agnosticismo, pela sua própria natureza, quer domesticar o mistério, tanto o mistério de Deus e da Sua Graça, como o mistério da vida dos outros.

O pelagianismo, por seu lado, é uma velha heresia que defende que não é o conhecimento que nos faz santos ou melhores, mas a vida que levamos. Nega também a existência do pecado original e a necessidade da Graça e acredita que é possível salvarmo-nos com as obras, com os actos e acções que realizemos. É o primado da vontade mas, uma vontade sem humildade.

Por detrás destes perigos, no fundo, está o perigo do mecanicismo, para o qual nos alerta o nosso Fundador: não somente pensar, não somente agir, não somente amar, tudo deve ser integrado mas, isso, por pura misericórdia de Deus e, como dom gratuito Seu e não por mérito próprio.

A transformação em Cristo

O terceiro capítulo intitulado “À luz do Mestre”, apresenta a santidade como: pensar, agir e amar como Cristo. No nosso vocabulário schoenstatteano é a transformação em Cristo, uma das três Graças especiais dos nossos Santuários. Jesus explicou a maneira de se ser santo, com simplicidade, através das Bem-aventuranças. É o mais longo capítulo da Exortação e, trata, inteiramente, de uma calma e “com os pés assentes na terra” meditação de cada uma das Bem-aventuranças. Lê-las com tranquilidade, apazigua o coração e, a Palavra de Deus penetra, com emoção, no coração, à medida que se vão lendo as suas descrições.

Reafirma o Papa, a falsa crença que, apenas as obras nos conduzem à vivência das Bem-aventuranças ou que, só a vinculação com Deus, necessária, certamente, é a única coisa que importa. A oração deve conduzir-nos à acção e a acção deve enriquecer a nossa relação íntima e pessoal com o Senhor. Nem activistas, nem angelicalistas, é o caminho da santidade cristã.

Ao céu não chegaremos sozinhos

O quarto capítulo intitula-se “ALGUMAS CARATERÍSTICAS DA SANTIDADE NO MUNDO ACTUAL”. Do grande enquadramento das Bem-aventuranças, o Papa quer deter-se, agora, nalgumas expressões espirituais que não devem faltar no nosso tempo para se compreender o estilo de vida ao qual o Senhor nos chama agora. Entre elas, destaca o estar firme e centrado em redor de Deus que ama e que nos sustém. É a doutrina do pêndulo da qual falava o nosso Pai-Fundador e que, o Pe. Hernán Alessandri repetia frequentemente. Em segundo lugar, recomenda a alegria e o bom humor, próprio, além disso, de tantos santos admiráveis como: Thomas More, Vincent de Paul ou Filipe Neri. Eu acrescentaria, sem me adiantar ao juízo da Igreja, uma característica do Pe. Kentenich. Este último proferiu uma frase célebre que queria dizer, aproximadamente, isto: “Eu, para canonizar um santo, veria apenas se foi heroico na alegria durante a sua vida”. É, no fundo, a alegria, o sinal mais claro de uma autêntica infância espiritual.

O Papa também recomenda a ousadia e o fervor, fazendo-se eco das palavras do Senhor:” Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 2). Ele está connosco, não devemos ter medo de enfrentar dificuldades e empreender o que Deus nos peça. Em quarto lugar, reafirma o viver e crescer comunitariamente na fé. Ao céu não chegaremos sozinhos, aspecto que o nosso Pai-Fundador sempre nos lembrava. Termina com uma quinta recomendação: a oração constante. Não só com palavras, também, com pequenos momentos simples no meio dos nossos afazeres quotidianos, dirigindo-nos ao Senhor com uma jaculatória ou com um singelo pensamento. É o característico da santidade da vida diária.

Combate, vigilância e discernimento e a Fé Prática na Divina Providência

Finalmente, no capítulo cinco intitulado “Combate, vigilância e discernimento”, lembra-nos a todos, mas ecoa com mais força nos filhos do nosso Fundador, a necessidade da Fé Prática na Divina Providência: estarmos atentos ao que o Senhor nos sugere nas circunstâncias e no coração (A mão no pulso do Tempo e o ouvido no coração de Deus N.T.) e que deve ser, sempre, contrastado com a ordem do ser. Não há santidade sem discernimento da vontade de Deus. Por isso, na formação dos nossos Militantes de Schoenstatt, o ensinamento da Fé Prática na Divina Providência deveria ocupar um lugar muito mais relevante daquele que, tem na actualidade, para se compreender e viver a Aliança com a Mater na vida diária. Sem Fé Prática, acabamos a fazer o que queremos e não o que Deus quer.

Todo o filho de Schoenstatt deveria meditá-la, saboreá-la e apropriar-se dela

Acho que esta Exortação é uma das mais bonitas Cartas que foram escritas na Igreja depois do Concílio Vaticano II. E, todo o filho de Schoenstatt deveria meditá-la, saboreá-la e apropriar-se dela porque, o nosso mundo – quase todo – da santificação da vida diária e da vivência da Aliança, está descrito pelo Papa. Sentir-nos-emos em Família com as palavras que o Papa nos dirige e poderemos compreender que a tarefa que tem a Igreja chilena e universal, é superar as crises do nosso tempo com mais santidade, com mais amor e com mais silêncio. Crise de santidade, crise de amor, crise de silêncio e de oração profunda é o que nós sofremos hoje e esta Exortação vem tocar os nossos corações para lhes dar resposta.

Texto integral da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate

Fonte: Revista Vínculo, Chile

Original: espanhol (9/7/2018). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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