Posted On 2018-01-24 In Francisco - iniciativos e gestos, Francisco - Mensagem, Igreja - Francisco - movimentos

Como vivi o encontro do Papa com os jovens chilenos no Templo Votivo de Maipú

FRANCISCO NO CHILE, por Sophie Berthet E.

A chegada ao templo – Foto: Sophie Berthet

“A fé vive-se em comunidade”. É uma das frases que mais marcou a minha vida porque sempre achei que sou muito sociável e porque acho que é muito verdadeira. Por muitas razões que, não vou dar por não ser este o cerne do assunto mas, espero que com a narrativa se perceba a que me refiro.

Participei como voluntária na vinda do Papa. Eu gosto muito de cantar. Fiz parte do Coro da Missão País durante vários anos, participo na produção e realização do Disco do Rumo ao Céu e, regra geral, canto na Missa. Desta vez, sabia que havia muitas vozes e pareceu-me que faltavam mãos. Por isso, escolhi ser voluntária.

Francisco sabe que existo

Quase não dormi e passei MUITO frio no Parque O’Higgins (como todos os mais de 20.000 jovens e adultos de espírito muito jovem que estiveram ao serviço de Jesus durante estes dias). Depois, pude ver o Papa muito de perto na Nunciatura Apostólica e, não cabia em mim de felicidade, depois, graças a ter-lhe gritado “Papita” , olhou-me da janela do carro. “Francisco sabe que existo”, pensei. “E vai rezar por mim”.

Foram dois dias esgotantes, durante os quais lamentei o meu papel porque, por falta de sono, adormeci não uma mas, três vezes na Santa Missa pela Paz e pela Justiça (depois recuei e arrependi-me de ter lamentado um voluntariado/apostolado, a seguir vem a razão).

Uau, há muitos católicos no Chile

Trabalho num programa de televisão em directo todos os dias e, por isso, infelizmente, não poderia ir ao encontro de jovens em Maipú. Convidaram-me a cantar e tive que recusar. Finalmente e, graças ao facto de que o canal tinha que cobrir todos os eventos em que estivesse Sua Santidade, nessa quarta-feira não houve programa e, como uma bênção, pude ir, acompanhada pela minha irmã mais nova (14). E, lá, senti, fortemente, o que era comunidade. A Conie disse-me “Uau, há muitos católicos no Chile”. Encontrei amigos que não via há muito tempo, senti-me parte de um grupo de pessoas a quem nos une uma coisa tão essencial como a razão de viver: Cristo. E, a minha irmã pressagiou, de certo modo, a mensagem do Papa. Talvez, seja um pouco rebuscado mas, ela estava impressionada e assustada com uma coisa que estava a acontecer no Chile, no seu país, na sua pátria. E, precisamente, com isso, começou Francisco: “Se não amamos a mãe pátria, não podemos amar Jesus. Se não amamos a nossa pátria, não somos nada”. Se amamos o Chile queremos partilhar com ele o mais bonito que conhecemos que é amar Deus acima de todas as coisas e Sua Mãe, a nossa Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt e coroá-l’A as vezes que for necessário.

Sair do sofá

No templo – Foto: Sophie Berthet

No mundo de hoje é difícil aceitarem se és das que vão à Missa aos Domingos, se és das que ouve música religiosa, se és das que diz “estou bem, graças a Deus” ou se vais pela vida a dizer “ Deus ama-me”. È difícil que as pessoas percebam porque é que desejas casar-te sem viveres junto, porque pões pagelas na tua secretária, porque vais ao Santuário. Mas, desta vez sentia que não era a única mas, uma mais, dos milhares que ali estavam. Dos milhares que gritavam a plenos pulmões:

– Viva Nossa Senhora do Carmo!

– Viva!!!

– Viva o Papa Francisco!

– Viva!!!

– Esta é! A juventude do Papa!…

O Sumo Pontífice dirigiu-se à juventude que estava na esplanada do Templo de Maipú – configurada por um grande número de, repito, jovens de espírito. Eles foram capazes de, como disse Francisco, sair do sofá. De fazerem fila, de se queimarem e de passarem mal debaixo do sol e sobre a terra quente; de não terem onde se sentar durante horas e, tudo, por trinta minutos com ele – e, falou de maturidade: “é fazer crescer os sonhos e as ilusões”. Chamou-nos a sermos protagonistas “a Igreja tem que ter rosto jovem”. Convidou-nos a participar no Sínodo que aí vem, interpelando a Igreja, mostrando a coragem de dizer o que sentimos e pensamos.

A palavra-chave que vale tudo: “Que faria Cristo no meu lugar?”

 

O fio conductor foi a tecnologia, usando a analogia entre a fé e a bateria do telemóvel. Quando ficamos sem bateria pomo-nos mal-humorados porque ficamos desligados do mundo. Não fiquemos sem fé, nem rede de wifi para não nos desligarmos de Jesus. E, aqui, utilizou parte da letra de uma das canções mais conhecidas do grupo chileno La Ley: “O barulho ambiental e a solidão da cidade isolam-nos de tudo. O mundo que gira ao contrário pretende mergulhar-me nele, afogando as minhas ideias”. E, fez uma piada.

Pediu-nos que nunca pensássemos que não temos nada com que contribuir ou que não fazemos falta a ninguém. E usou palavras do nosso S. Alberto Hurtado: “esse é o conselho do diabo, que não vales nada”. E, neste ponto, chegamos ao momento mais importante da sua conversa. Deu-nos a palavra-chave do wifi e pediu-nos que a apontássemos num caderno: “Que faria Cristo no meu lugar?”. Para nos questionarmos na escola, no trabalho, no estádio, no ginásio. Fazer a nós próprios essa pergunta torna-nos protagonistas da história. Devemos ansiar contagiar esta faísca em tantos corações pobres que ficam à espera que aconteça alguma coisa que valha a pena. E, para isso, devemos viver tal como Jesus, Ele sim, faz vibrar o telefone e o coração.

Tenham a disponibilidade da nossa Mãe, a primeira discípula, para cantarem com alegria e fazerem a Sua vontade

“Queridos amigos, jovens queridos! «Sede vós – peço-vo-lo, por favor – os jovens samaritanos que nunca abandonam ninguém caído no caminho. No coração, outra pergunta: Alguma vez deixei alguém caído no caminho? Um parente, um amigo, uma amiga…? Sede samaritanos, nunca abandoneis o ser humano caído no chão pela estrada. Sede vós os jovens cireneus que ajudam Cristo a levar a sua Cruz e compartilham o sofrimento dos irmãos. Sede como Zaqueu, que transforma o seu nanismo espiritual em grandeza e deixou que Jesus transformasse o seu coração materialista num coração solidário. Sede como a jovem Madalena, buscando apaixonadamente o amor, que só em Jesus encontra as respostas de que necessita. Tende o coração de Pedro, para deixar as redes nas margens do lago. Tende o carinho de João, para repor em Jesus todos os vossos afetos. Tende a disponibilidade da nossa Mãe, a primeira discípula, para cantar com alegria [ao Senhor] e fazer a sua vontade”

Pediu-nos que nos lembrássemos da palavra-chave e, só aí, interrompemos o silêncio sepulcral com o qual tínhamos ouvido atentamente – um silêncio que me surpreendeu porque não existe nem na Missa – Que faria Cristo no meu lugar?

Ao terminar, agradeceu, reconheceu que gostaria muito de ter ficado mais tempo e pediu-nos: “por favor, não se esqueçam de rezar por mim”

 

 

Texto integral da Homilia

Todos os textos da visita ao Chile 

 

Original: espanhol (20/1/2018). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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