Posted On 2014-05-04 In Comunicação

Cardeal Dolan:”Francisco não tem marketing, nem especialistas que o aconselhem, a comunicação sai-lhe espontâneamente

JOSÉ M. VIDAL/RD. Conquista as pessoas só com a sua presença. Não é, em vão, que o Cardeal de Nova Iorque, Timothy Dolan se define, a si próprio, como “alto, gordo e careca”. E, se à sua imponente figura, aliamos um sentido de humor fascinante, percebe-se porque é que conquista rapidamente o auditório. Como aconteceu ontem na Universidade da Santa Croce da Obra, em Roma, numa conferência salpicada de piadas. Mas, pelo meio da brincadeira, surgem pérolas como estas:” que a Igreja não deve ter medo dos meios de comunicação, mas sim, conquistá-los, dando a outra face e que na comunicação de Francisco não há marketing, mas sim, espontaneidade pura e transparência.

Extrovertido, brincalhão, aberto, simpático, Dolan é um comunicador brilhante por natureza. Sem, demasiado conhecimento sobre a teoria da comunicação. E, tudo o que sabe, aprendeu com a experiência. E, confiando nos seus assessores. Daí, a sua insistência com todos os bispos para que arranjem equipas de comunicação e confiem nos seus portavozes. Para que não aconteça o que se passou com ele que teve que aprender com os seus erros. “Na escola das cacetadas, o que aprendi foi ao murro”.

Nós, os bispos, não devemos assustar-nos, nem ter medo dos meios de comunicação

A partir dessa experiência vivida, o purpurado americano dá-nos um serie de pistas, simples mas pragmáticas e essenciais, para a comunicação, na Igreja. A primeira é, “nós, os bispos, não devemos assustar-nos, nem ter medo dos meios de comunicação, sabendo que são indispensáveis para a evangelização”. Por isso, ele acha, que os prelados têm que se habituar a lidar com os meios de comunicação e “quanto melhor os conheçamos, assim como, aos jornalistas, melhor nos tratarão”.

A segunda pista de comunicação do cardeal americano é “ cuidar do como, ainda mais, do que do quê”. Sem nunca ter “medo de dizer  a verdade, por muito dolorosa que seja”. E  explicitou exemplos de padres ou diáconos alcoólicos ou abusadores”.

Aquilo que nos  criticam, e com razão, é que tentemos esconder as coisas

Tanto nestes, como em outros casos, Dolan assevera que “ as pessoas esperam, da  Igreja, honestidade e transparência” E, acrescenta:”Aquilo que nos criticam, e com razão, é que tentemos esconder as coisas”. Porque, como dizia o novo santo João Paulo II, “a Igreja não tem medo da verdade”.

A terceira pista, segundo Dolan, é defender a Igreja. Em sua opinião,  todos os meios de comunicação têm a sua linha editorial, da qual não se afastam. Pois bem, a linha editorial fundamental dos meios de comunicação católicos deve ser “a defesa da Igreja”. Por isso, ele considera “doloroso” que, até os meios de comunicação católicos, sejam “anti-Igreja”. E, apela ao cerrar das fileiras, porque para criticar a Igreja e os bispos “já bastam e sobejam os outros meios de comunicação”.

Dolan reconhece que “os bispos precisam de crítica e de a levar a sério, sempre e quando seja imparcial, equilibrada e educada”. Mas, ele pensa que, também deve ficar claro que “ nem tudo é mau no mundo católico”.

A outra face mediática

Em quarto lugar, o cardeal novaiorquino pediu que não façamos aos media o que não queremos que eles nos façam a nós. Isto é, “evitar os estereotipos sobre os meios de comunicação”, mas sendo realistas. Porque, em sua opinião, “há meios de comunicação que só querem destruir a Igreja e A atacam constantemente”. Nesse caso, Dolan aconselha a “dar a outra face e não responder no mesmo tom”.

E, não deixou de reconhecer que “a imensa maioria dos jornalistas são profissionais que procuram o acesso a fontes de informação fiaveis e, se não formos nós a dar-lhas, pedi-las-ão aos que , de má fé, nos querem criticar”.

Fome de notícias e de histórias interessantes

Em quinto lugar, o arcebispo de Nova Iorque propõe utilizar abordagens simples e aproveitar os “furos” que a actualidade oferece ou os momentos em que os meios de comunicação estão mais interessados na informação religiosa. E deu como exemplo a atitude dos bispos norte-americanos durante o tempo que precedeu o último conclave.

“Os cardeais americanos, quando nos demos conta que havia fome de notícias e de histórias interessantes, convocámos conferências de imprensa. E, os jornalistas responderam muito bem. Organizámos várias e obtivemos bastante sucesso, foi tudo bem feito. Mas a Cúria criticou-nos e, inclusivamente, pediu-nos que acabássemos com as conferências de imprensa. Obedecemos mas, perdemos uma excelente oportunidade. Além disso, ao não serem informados, muitos jornalistas ficaram-se pelas anedotas e com a informação que convinha a alguns informadores italianos”.

Quando queremos explicar a alguém o que é o futebol, não começamos por lhe dar uma aula sobre os “cantos”, mas  levamo-lo a ver um jogo

Em sexto lugar, o purpurado propôs que a comunicação católica se centrasse em Jesus, que é o centro de tudo, na Sua vida e na Sua experiência. E, muito menos na doutrina ou nos mistérios do cristianismo. Porque, “quando queremos explicar a alguém o que é o futebol, não começamos por lhe dar uma aula sobre os “cantos”, mas levamo-lo a ver um jogo”.

E, como última pista, Dolan convidou a conhecer o “público alvo”, os destinatários das mensagens. E, “falar para que nos entendam e adaptar a mensagem ao público”. Conscientes que “a comunicação é um ministério fundamental na Igreja”. Por isso, temos que expressar a fé “de um modo atractivo e sedutor”.

Homilias curtas, com frases bombásticas, com cabeçálhos

E, como exemplo perfeito de comunicação,Dolan apontou Francisco. “O Papa é um comunicador excepcional, porque é um Papa amável, humilde e cordial. E, porque sabe sempre o que quer dizer e como”. E, acrescentava o purpurado:”Na comunicação do Papa não existe um programa, nem uma campanha de marketing, ou especialistas que o aconselhem. Ele fá-lo assim, espontâneamente”.

Seguindo o exemplo do Papa, Dolan sugere que as Homilias dos clérigos sejam “curtas, com frases bombásticas, com cabeçálhos”. E, para isso, é preciso prepará-las.

Quando chegou a vez das perguntas, Dolan improvisou uma saudação bombástica, do género do predicante americano, aos doentes de um hospital, para quem estavam a transmitir, em directo, através de uma rádio do centro hospitalar.

Enfatizou que é preciso “aproveitar todas as oportunidades e ir a todos os lados para evangelizar”, inclusivamente a programas que, à primeira vista, pudessem parecer pouco aconselháveis. E, concluiu dizendo que aos jovens é preciso “lançar-lhes toda a mensagem cristã e, sobretudo, a da virtude, a da santidade e a da perfeição, porque eles querem a verdade total, sem minimizações”. E, deu o exemplo do professor “osso duro de roer” que “costuma ser aquele que os Jovens mais admiram”

Fonte: Religión Digital, Espanha

Original: Espanhol – Trad. Lena Castro Valente. Lisboa. Portugal

 

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