mein platz

Posted On 2022-02-23 In Artigos de Opinião

Obrigado, senhora Oelschner

Elke Karmann, Alemanha •

Quando li o seu artigo “Quero tudo…”, pensei: que bom que alguém escreva o que também arde no coração de muitos de nós schoenstatteanos. Também eu segui com interesse o Caminho Sinodal e os documentos que, para esse fim, foram preparados, especialmente no que diz respeito às mulheres, e pude acompanhar a maior parte dos debates e votações da terceira assembleia plenária do Caminho Sinodal, graças à Internet. Como schoenstatteana, fiquei especialmente feliz por o Bispo Michael Gerber, Bispo de Fulda e membro do Instituto dos Sacerdotes Diocesanos de Schoenstatt, estar no Fórum Sinodal 3 “Mulheres nos ministérios e cargos da Igreja” e poder também contribuir com o pensamento de Schoenstatt.

A união fraterna, como o caminho sinodal esforça-se em viver, é a herança espiritual e a missão do nosso Fundador. Pude experimentar esta cooperação fraterna, apreciadora e construtiva a partir do trabalho conjunto dos diferentes Ramos entre si e também muito bem no trabalho conjunto dos sacerdotes e leigos de Schoenstatt e mesmo no trabalho lado a lado das diferentes comunidades espirituais.

A minha experiência pessoal

Decidi falar-vos da minha própria vida para que possam compreender porque é que este assunto me toca tanto: em criança, fui autorizada a fazer a Primeira Comunhão quando tinha apenas 4 anos de idade e, queria tornar-me acólita e presbítera em tenra idade. O meu amor por Jesus era muito grande e eu queria tornar o amor de Deus tangível a muitas pessoas. Parecia injusto que este caminho só estivesse aberto a rapazes e eu preferia ser um rapaz.

Mas a dada altura aceitei que este desejo em mim de ser Pastor não podia ser satisfeito.

Envolvimento na paróquia quando era criança

Na paróquia assumi a co-responsabilidade desde muito cedo – inspirada pela minha experiência em reuniões familiares em Schoenstatt. Aos 9 anos de idade fui encarregada da organização musical das Missas escolares com cânticos infantis e juvenis modernos. Aos 11 anos, o pároco nomeou-me chefe de grupo de 20 crianças com idades compreendidas entre os 9 e os 10 anos. Aqui também encontrei ajuda e apoio na Juventude Feminina de Schoenstatt. Desta forma, cresci cada vez mais em Schoenstatt e também na comunidade paroquial com as tarefas que me foram atribuídas.

… e esqueci-me do meu desejo original

Na Juventude Feminina de Schoenstatt ouvimos uma palestra na Jornada de Dirigentes (nessa altura o “Schwarzhorn”) sobre o sacerdócio e porque não podia ser aberto a nós mulheres. A acção de Jesus na Ceia do Senhor, a representação de Cristo por um homem e as razões escatológicas então apresentadas ajudaram-me a aceitar a razão pela qual os serviços e cargos na Igreja não estão abertos a nós mulheres. Depois também me esqueci do meu desejo original e envolvi-me de diferentes formas e tarefas na Igreja e em Schoenstatt.

Depois veio o Caminho Sinodal, Maria 2.0 e Katharina Ganz.

Através da minha participação no Caminho Sinodal e também na “Maria 2.0”, entrei novamente em contacto com o tema “as mulheres e as suas vocações na Igreja”. Mas foi apenas através de um intercâmbio com um conhecido e, sobretudo, através da leitura do livro “As mulheres são um incómodo – e sem elas a Igreja não tem futuro” (de Katharina Ganz), que tomei consciência do meu desejo de infância.

Convencida de que o Espírito de Deus também age no espírito da época.

Enquanto as mulheres não estiverem envolvidas em todos os processos importantes da vida da Igreja, a Igreja respirará com apenas um pulmão, por assim dizer, porque não usa os carismas que nela se encontram. A Igreja não pode desdobrar todo o seu brilho e irá enfraquecer-se a longo prazo. Só podemos permanecer credíveis como cristãos se não tivermos medo da mudança e estivermos fielmente convencidos de que o Espírito de Deus age, também, no espírito dos tempos.

Foi isto que o Padre Kentenich nos ensinou: “com o nosso ouvido no coração de Deus e a nossa mão no pulso do tempo”. Nem tudo o que é tradição é também digno de ser transmitido no seu tempo. Afinal, durante muito tempo todas as traduções vernaculares das Escrituras Sagradas estavam no Índex da Igreja Católica. “Quem lia um livro que estava na “lista negra” arriscava a pena de excomunhão e assim arriscava a salvação eterna”, explica Hubert Wolf, professor de História da Igreja, no seu livro “Index – der Vatikan und die verbotenen Bücher – (Index – o Vaticano e os livros proíbidos)” (p. 7f.). Hoje em dia, apenas nos rimo disto e não conseguimos compreender que mesmo “Knigge”, “A Cabana do Pai Tomás” e obras de Karl May estavam no Índex, e mesmo em 1954 Immanuel Kant com “A Critica da Razão Pura” ainda estava na lista negra.

Ou pensemos no capítulo negro do genocídio cultural cometido durante décadas pelas escolas de reeducação das crianças das Primeiras Nações canadianas (e não só aí) na (esperemos) boa fé de missionar os “selvagens”, expulsando a sua cultura “pagã e diabólica” através de métodos totalmente degradantes e cristianizando-os. Só nos anos 90 é que as últimas escolas católicas obrigatórias no Canadá foram também encerradas. Em 2022, dificilmente podemos imaginar que esta injustiça em colapso – em contra corrente de todo o conhecimento científico disponível durante décadas e do sentido comum prevalecente da dignidade humana – só terminou em 1990 e foi mantida por tanto tempo pela Igreja e pela sociedade no Canadá.

Como Igreja, segundo a Lumen Gentium, somos um povo de Deus constantemente em peregrinação, sempre a caminho, sempre chamado à renovação. Como Movimento de Schoenstatt, procuramos reconhecer o Deus da Vida através das suas pegadas nas vozes de cada tempo e alma.

Restabelecer um clima de esperança e de confiança

Sim, vale a pena, como Movimento de Schoenstatt e como indivíduo, apoiar o Papa Francisco no seu processo de renovação da Igreja e ver, com ele, que velhas tranças podem ser calmamente cortadas com o passar do tempo e como pode Cristo imaginar uma Igreja de acordo com o Seu desejo, no século XXI,“., ” O próximo Jubileu poderá favorecer imenso a recomposição dum clima de esperança e confiança, como sinal dum renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. ” (Carta para o Jubileu de 2025).

Comprometo-me…

Vejo um primeiro mas importante passo em que todos podemos participar na Declaração de Frankfurt, que surgiu após a 3ª Assembleia Plenária do Caminho Sinodal e que foi assinada por muitos membros do Sínodo, entre eles o Presidente da Conferência Episcopal Alemã, Georg Bätzing. Somos todos convidados a aderir a esta declaração, assinando-a. Ao contrário de outras petições, contém um auto-compromisso. Acho isto particularmente simpático e convincente. Não basta esperar que os outros façam alguma coisa. É-me pedido que me una à minha assinatura e ao mesmo tempo me comprometa a viver a Igreja Sinodal através da união fraterna e de apreço, quando a declaração for lida:

“Saudamos o espírito de deliberação sinodal e de tomada de decisões como inspiração para encontrar novas formas de levar o Deus da Vida ao povo do nosso tempo. Por conseguinte, comprometemo-nos a ser fortes defensores de uma Igreja que viva a sinodalidade onde quer que Deus nos coloque”.

Original: alemão (16/2/2022). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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