Maria Fischer •
Uma primeira página negra e, no centro, uma imagem da Porta de Brandeburgo em Berlim, iluminada com as cores nacionais alemãs. Assim, apareceu a edição semanal do “Berliner Morgenpost” na quarta-feira, 21 de Dezembro, dois dias depois do ataque terrorista em Berlim. Sob a fotografia, em grandes letras brancas, aparece a legenda:
Não temais
Evangelho de S: Lucas, capítulo 2, versículo 10
Quando em pleno ambiente pré-natalício passa um camião, mata 12 pessoas e fere mais de 50, quando esse camião atropela e destroça o sentimento de segurança, como o fez com as iluminadas bancas do mercado de Natal, é muito difícil para os políticos, jornalistas e sacerdotes encontrarem as palavras correctas que a população atemorizada espera deles, predisposta pela própria situação para os slogans de ódio.
Quando Alepo fica feita em escombros e dezenas de milhares de pessoas já não sabem para onde fugir, quando a Venezuela morre de fome e que, o que, em breve será o homem mais poderoso da Terra anuncia o rearmamento atómico via Twitter, quando morre uma equipa de futebol inteira porque a companhia de aviação quis poupar combustível e quando as guerras sangrentas do Congo já não aparecem nos meios de comunicação porque há muitas outras catástrofes, então fica-se sem palavras e a avalanche de pirosas saudações digitais de Natal, milhares de vezes reenviadas, dão cabo dos nervos.
Os jornalistas do “Berliner Morgenpost” – não precisamente um jornal religioso – lançam mão de uma palavra que tem dois mil anos de antiguidade, a palavra que os Anjos disseram aos pastores nos campos de Belém. Não temais. Talvez que, na avalanche de palavras bem-intencionadas mas, desgastadas pelo seu uso excessivo, só fique esta palavra. Só A Palavra, A PALAVRA que Se fez carne e habitou entre nós e habita ainda entre nós, no meio deste mundo e, não, num mundo idílico e paralelo. A Palavra, Jesus Cristo, o Menino de Belém, a única razão que pode dizer a este mundo e a cada pessoa: Não temais. Esta é a alegria do Evangelho, aqui e agora, no mundo real.
A mensagem que nos transmite o relato do Natal de Nosso Senhor
No dia a seguir ao ataque terrorista em Berlim, Jasper von Altenbockum, redator responsável pela política interna do FAZ (Frankfurter Allgemeine Zeitung), escreveu:
Os mercados de Natal desdobram, com pirosice e comércio, um estado de ânimo que provém de um mundo paralelo, contrário à guerra terrorista declarada ao Ocidente com este tipo de ataques. Não o vão fazer de qualquer modo? Deveríamos agora, nos dias até à Noite de Natal, pôr umas obstinadas luzes na árvore de Natal contra o assassínio, a morte e a obscuridade terrorista? Foi correcto cancelar apenas alguns eventos importantes a seguir aos ataques terroristas recentes, mas, no geral, não perder a calma. O medo apoderou-se já da França. Na Alemanha não vai ser diferente.
Pode alguém dizer simplesmente. Feliz Natal? Depois do atentado em Berlim torna-se difícil, para muitos, impossível. Nestes tempos talvez não encontremos consolação nos mercados de Natal, mas sim, na mensagem que nos transmite o relato do Nascimento de Nosso Senhor.
Não temais.
O nascimento de Jesus: Lc 2,1-20
1 Aconteceu naqueles dias em que foi promulgado um édito por parte de César Augusto que todos fossem recenseados.
2 Este primeiro recenseamento foi feito sendo Quirino governador da Síria.
3 E todos iam recensear-se, cada um na sua cidade.
4 E José subiu da Galileia, cidade de Nazaré, a Judá, à cidade de David que se chama Belém, porque era da casa e família de David;
5 Para se recensear com Maria sua mulher, desposada com ele e que se encontrava grávida.
6 E aconteceu que, estando eles lá se cumpriram os dias para dar à luz.
7 E deu à luz o Seu Filho primogénito e envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria.
8 Naquela região havia uns pastores que vigiavam e guardavam os seus rebanhos.
9 E apresentou-se-lhes um Anjo do Senhor e a Glória do Senhor envolveu-os em esplendor; e tiveram grande medo.
10 Mas o Anjo disse-lhes:
Não temais; porque vos anuncio uma grande alegria que o será para todo o povo:
11 Hoje nasceu para vós, na cidade de David, um Salvador, Jesus Cristo Senhor.
12 Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino embrulhado em panos, deitado numa manjedoura.
13 E de repente apareceu com o Anjo uma multidão das hostes celestiais que louvavam a Deus e diziam:
14 Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos Homens de boa vontade!
15 Aconteceu que quando os Anjos se foram embora para o céu, os pastores disseram uns para os outros: vamos, pois, a Belém e vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos manifestou.
16 Foram pois apressadamente e encontraram Maria e José e o menino deitado na manjedoura.
17 E, ao vê-l’O deram a conhecer o que lhes tinha sido dito acerca do menino.
18 E todos os que os ouviram ficaram maravilhados com o que eles lhes diziam.
19 Mas Maria guardava tudo no Seu coração.
20 E regressaram os pastores glorificando e louvando a Deus por todas as coisas que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido dito.
FELIZ NATAL
Original: alemão. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal