Posted On 2015-10-16 In Artigos de Opinião

Não vos envio sozinhos mas, pela mão da Mãe, Maria

Redacção schoenstatt.org •

Por ocasião da peregrinação diocesana da Arquidiocese alemã de Friburgo, a Schoenstatt, em 20 de Setembro de 2015, na Igreja dos Peregrinos, em Schoenstatt, o Arcebispo Emérito Dr. Robert Zollitsch proferiu uma Homilia baseando-se na mensagem que o Papa Francisco deixou ao Movimento de Schoenstatt por altura da Peregrinação Jubilar a Roma em 25 de Outubro de 2014.

Aqui publicamos o texto da Homilia na versão autorizada pelo Arcebispo Emérito Dr. Robert Zollitsch

“Mãe Maria, contigo quero caminhar”

Aqueles que peregrinaram a Roma, por ocasião da celebração do Centenário da Fundação de Schoenstatt, recordam com gosto o encontro com o Papa Francisco, em 25 de Outubro do ano passado. A seguir à renovação comum da Aliança de Amor, o Santo Padre disse:” Ao dar-vos a minha bênção, envio-vos como missionários para os próximos anos…Não vos envio sozinhos, mas antes, pela mão da Mãe, Maria”[1].Ontem e hoje, um ano depois, saímos em peregrinação diocesana a Schoenstatt, para darmos ao Santo Padre e a Nossa Senhora a nossa resposta: Sim, “Mãe Maria, contigo quero caminhar”

I

O que nos anima a agarrarmos a mão que nos estende Nossa Senhora para, nos deixarmos conduzir por Ela, são os cem anos da abençoada e fecunda história de Schoenstatt, assim como, também, a experiência pessoal de fé que sempre nos alenta. Ao mesmo tempo, está o estímulo do nosso Santo Padre que, não deixa de nos indicar que, Maria Mãe, em primeiro lugar e, sobretudo, é Mãe[2] E, isto, não somente, por ter dado à luz Jesus, mas, porque, também, nos ajuda “a que Jesus nasça e cresça em nós. É, Ela quem, continuamente, nos dá a vida”.[3]

À convicção sustentadora fundamental do Papa Francisco e, à sua espiritualidade vital pertence o facto de que Jesus nos deixa a Sua Mãe como nossa Mãe. “Aos pés da Cruz”, deste modo, o explica o nosso Santo Padre, na sua grandiosa Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”: “Na Cruz, nesse momento crucial, antes de dar por consumada a obra de que o Pai O tinha encarregado, Jesus disse a Maria: ”Mulher, eis aí o Teu filho”. A seguir, disse ao discípulo amado: “Eis aí a Tua Mãe”. (Jo 19, 26,27)… Jesus deixa-nos a Sua Mãe como nossa Mãe. Só após ter feito isto, Jesus pôde sentir que “tudo está cumprido” (Jo 19, 28). Aos pés da Cruz, na hora suprema da Nova Criação, Cristo leva-nos a Maria. Ele leva-nos a Ela porque, não quer que, caminhemos sem uma Mãe…Maria que, O gerou com tanta fé, também acompanha “o resto dos Seus filhos, os que, guardam os Mandamentos de Deus e, conservam o testemunho de Jesus” (Ap. 12, 17)[4] Jesus deu-nos a Sua Mãe como nossa Mãe, “porque, não quer que caminhemos sem uma Mãe”, porque sabe o quanto precisamos de uma mãe e, que imenso presente é, ter uma mãe e, percorrermos o nosso caminho pela sua mão, como uma criança. Isto, di-lo o Papa Francisco.

Alguns resistem a serem crianças e, a caminhar, como adultos, pela mão da sua mãe, ainda que, em nós, sempre exista uma certa nostalgia da criança. Por outro lado, de acordo com o Evangelho, o sermos criança é o requisito para a entrada no Reino dos Céus. O Evangelho deste domingo diz-nos isto, muito claramente.

II

À primeira vista, surpreende-nos e, num segundo momento até nos tranquiliza um pouco, o facto de os discípulos de Jesus, também, terem tido fraquezas, como toda a gente. Para desilusão de Jesus, eles não se ocupam com o que lhes tinha anunciado: a Sua morte e a Sua Ressurreição. Não, eles discutem sobre quem é o maior entre eles

Jesus dá-lhes e dá-nos, a nós, uma resposta clara e, ao mesmo tempo, humana. Responde-lhes com uma imagem que desperta o nosso interesse e, que todos compreendem. Põe uma criança no meio deles. Eles devem receber a criança e, ao recebê-la, recebem Jesus. Devem aceitá-lo -também, como imagem e exemplo – devem guiar-se por Ele e, aprender com Ele. E, Jesus diz-lhes e diz-nos, a nós, de modo francamente provocador: “Se não forem como crianças, não entrarão no Reino dos Céus” (Mt 18, 3)

Quando falamos acerca da criança e de sermos crianças, no sentido de Jesus, não se trata duma transfiguração romântica duma existência ingénua e torpe. Não, pelo contrário, trata-se da abertura e da capacidade para se deixar surpreender e obsequiar; trata-se da confiança ilimitada e, da disponibilidade em se deixar conduzir; da disponibilidade em segurar uma mão amorosa que apoia, uma mão que conduz, acolhe e protege e, que nos é estendida para, nos deixarmos ajudar e conduzir no nosso caminhar. E, àqueles que, se abrem a esta atitude do Evangelho, àqueles que contemplam Deus com esta atitude “ pertence-lhes o Reino dos Céus” (Lc 13,14). Esta é a promessa de Jesus.

III

O “ser-criança face a Deus”, a “infância espiritual”, a “atitude filial” perante Deus e, perante Nossa Senhora, era um dos grandes temas e, um dos temas preferidos do Fundador de Schoenstatt, o Pe. José Kentenich. Para ele, a plenitude cristã, a santidade consiste, precisamente, na perfeita atitude filial perante Deus. [5] “E, para que o possamos aprender, Deus deu-nos a Sua Mãe”.[6]

Assim, o Pe. Kentenich está completamente de acordo com o Papa Francisco que, nos diz: Precisamos de uma mãe que nos eduque, que nos permita crescer, que nos acompanhe e, que nos conduza a Jesus[7]. E, exorta-nos: “Dêmos um lugar a Maria, a Mãe”[8].

O grande presente de Nossa Senhora, aqui em Schoenstatt, um caminho que, se tem provado de múltiplas maneiras desde há cem anos: Maria estende-nos a Sua mão, convida-nos a segui-La para selarmos uma Aliança com Ela, uma Aliança de Amor. Oferece-nos a Sua companhia no nosso caminhar: convida-nos a participarmos do Seu amor pelo Seu Filho e, a deixarmo-nos conduzir, por Ela, ao Seu Filho. Ela apresenta-Se perante nós como um grande exemplo e, como uma companheira comprometida connosco; como A que acreditou e, que segue as pegadas do Seu Filho; como a Mãe amorosa e preocupada que, está ali para Ele e, para nós; como a Mãe solidária que, sofre com o Seu Filho e connosco, compartilhando todas as dores. Ela é a Mãe que sabe, como diz o Papa Francisco, “transformar um curral de animais em casa de Jesus com uns pobres trapos e montes de ternura”[9]. Ela que “nos recebeu como filhos quando uma espada Lhe atravessava o coração”[10] , está próxima de nós em todas as nossas necessidades, compreende as nossas preocupações e, partilha as nossas dores.

Está próxima de nós e, está lá para nós – esta é a experiência de muitos santos e de todos aqueles que percorrem, pela Sua mão, o caminho de peregrinação da fé. Ela está ali, inclusivamente, se, por vezes queremos continuar, teimosamente, os nossos próprios caminhos. O cântico de Johannes Ganz, do qual tirámos o lema da nossa peregrinação diocesana deste ano, conhece esta experiência. Maria é a activa; é Ela quem Se aproxima de nós, quem nos aborda, quem nos conhece pelo nosso nome. Não em voz alta; não nos invade; não Se impõe. Fala-nos em voz baixa, com a linguagem do coração, com a linguagem do amor e do convite. E, segura-nos a mão, porque é nossa Mãe e, porque quer sê-lo realmente. Sabe que, com frequência, somos caprichosos e cabeças duras. Contudo, não Se afasta de nós. Pelo contrário, levanta-nos quando caímos. É que, Ela é Mãe.

IV

O Lema deste ano da nossa peregrinação diocesana convida-nos a segurarmos na mão de Maria e a deixarmo-nos conduzir. E, não apenas, até aqui, até ao Seu Santuário de Schoenstatt. E, não, apenas, ontem e hoje para rezarmos no lugar de graças e, para nos encontrarmos com o Seu Filho, Jesus Cristo. Não, Ela convida-nos e, pede-nos que nos entreguemos a Ela, que nos deixemos conduzir por Ela e, que nos deixemos formar e educar por Ela segundo a Sua imagem, de maneira a chegarmos a ser, cada vez mais, pessoas crentes, esperançadas e que amam; que nos deixemos contagiar pelo amor que tem ao Seu Filho. Sim, que deixemos que, com a Sua ajuda, Cristo seja modelado, cada vez mais, em nós.

Este foi o caminho e, é o atraente modelo do Fundador de Schoenstatt, o Pe. José Kentenich. Quando, nas suas Bodas de Prata sacerdotais revê a sua vida, confessa: “Ela (Nossa Senhora) formou-me e configurou-me desde os meus nove anos”[11], desde aquela hora em que a sua mãe o confiou a Maria[12]. Toda a sua educação, assim o experimentou agradecido, foi “obra de Nossa Senhora”[13].

Como peregrinos, pusemo-nos a caminho do Santuário de Nossa Senhora, aqui, em Schoenstatt. A maior parte de vós, estimados peregrinos da Diocese de Friburgo, fazem-no, ano após ano. Não se encontrará, por detrás deste facto, a experiência agradecida de notar que, Maria, não só nos atrai, como, também, nos sustem, nos protege e, nos apoia na nossa vida? O Papa Francisco confirma esta experiência quando afirma: É, nos Santuários (marianos) onde se pode perceber como Maria, reúne à Sua volta, os filhos que, peregrinam com muito esforço para A olhar e, deixar-se olhar por Ela. Ali, encontram a força de Deus para ultrapassar os sofrimentos e canseiras da vida” (EG 286)

Devemos estar agradecidos ao nosso Papa Francisco que nos anima e, nos permite partilhar o seu amor a Nossa Senhora. Claramente, partilha a experiência e a convicção do seu predecessor, o Papa S. Pio X, que tinha claro “que não há um caminho mais seguro e, mais rápido, para unir todos com Cristo que, o que passa através de Maria e, que por esse caminho, podemos conseguir a perfeita adopção de filhos, até chegarmos a ser santos e imaculados na presença de Deus[14]. O Papa Francisco que reconhece, como seu segredo que, ao levantar-se, em cada manhã, toca na imagem da Mater, a Mãe Peregrina, que tem na sua mesa- de- cabeceira e reza”[15], envia-nos “pela mão da nossa Mãe, Maria”[16] e, anima-nos e diz-nos que Nossa Senhora repete a cada um de nós as mesmas palavras que sussurrou a S. Juan Diego, na Sua aparição em Guadalupe: “Não se perturbe o teu coração… Não estou eu aqui que, sou tua Mãe?”[17]. Se, Ela está aqui. Isso, reconhecemo-lo, com razão, na última estrofe do cântico de Johannes Ganz, “ Tu mostras-nos Cristo e, conduze-nos a Ele, mostras-me o sentido da minha vida. Com Ele no coração e, seguro pela Tua mão, vai para o Pai, o meu caminho”.

[1] Pe. José Maria Garcia Sepúlveda, Cultura de encontro, Nueva Patris, Chile 2015, 47
[2] ebd. 21 s
[3] ebd. 23
[4] Papa Francisco, Exortação Apostólica „Evangelii Gaudium“, de 24 de Novembro de 2013, Nr. 285, cit: EG
[5] Ver. Pe. José Kentenich, Educação Mariana, Vallendar 1971, 172 ss
[6] ebd. 173
[7] Pe. José Maria Garcia Sepúlveda, Cultura do encontro, Nueva Patris, Chile 2015, p. 22; 30; 45
[8] Papa Francisco, Discurso em 6.7.2015, em Guayaquil
[9] EG, 286, ver. Pe. José Sepúlveda… S. 21
[10] Papa Francisco, Discurso em Guayaquil
[11] Pe. J. Kentenich, Homilia durante a celebração do Jubileu dos 25 anos de Ordenação Sacerdotal, em 11/08/1935, em: Peter Locher u.a., (Editor), Kentenich-Reader, I, Vallendar 2008, Pág. 55
[12] Ver. Ferdinand Kastner, Sob a Proteção de María, Vallendar-Schönstatt 4, 1952, 184
[13] Kentenich-Reader, I, Pág. 55
[14] Papa Pío X., Encíclica “‘Ad diemillum laetissimum“, de 2/2/1904, em Rudolf Graber, As Encíclicas marianas dos Papas nos últimos cem anos, Würzburg, 1954, Nr. 139
[15] Pe. José Maria Garcia Sepúlveda, Cultura do encontro, Nueva Patris, Chile 2015, p. 47
[16] ebd.
[17] De EG 286
O livro citado várias vezes por Mons. Zollitsch, “Cultura do encontro”, com o texto da mensagem do Papa Francisco ao Movimento de Schoenstatt, em 25 de Outubro de 2014, com um prólogo do Pe. José Maria García, Madrid, foi editado pela Editorial Nueva Patris, Chile, em cooperação com schoenstatt.org, pode adquirir-se aqui e em vários pontos de venda
Em cada livraria: ISBN 978-956-246-772-8
Agora na Europa pode ser comprado online em língua portuguesa no seguinte site: http://shop.schoenstatt-memhoelz.de/buecher/schoenstatt/918/cultura-do-encontro-e-cultura-de-alianca.-es-isso-gera-solidariedade?c=5
Também como E-Book (Amazon Kindle, Android, iBook…)

Outras línguas também: www.patris.cl

tapa libro zollitschBrevemente, será lançado, também, na Nueva Patris, Chile, o livro: “Igreja em Aliança”, com duas conferências de Mons. Robert Zollitsch sobre o carisma do Padre José Kentenich e a Igreja em saída, à luz do Pontificado do Papa Francisco (em alemão, espanhol, inglês, italiano, português)

 

 

Original: alemão. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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