Posted On 2015-05-27 In Artigos de Opinião

Cuidado

Por Pe. Guillermo Carmona, Diretor Nacional de Schoenstatt na Argentina •

Sair ao encontro pressupõe não apenas “proximidade”, mas também “cuidado” pelo outro.

Cuidar de alguém significa preocupar-se, interessar-se, antecipar perigos e acompanhá-lo em sua aventura rumo à liberdade. É a força para desenvolver seus melhores talentos e para realizar sua vocação.

Contra a globalização da indiferença

É o oposto à indiferença, à ‘globalização da indiferença’, que o Papa Francisco citou. Impressionam seus gestos de colocar no mar, em Lampedusa, uma coroa de flores em memória das vítimas; convidar os sem-teto para tomarem café da manhã com ele, no dia do seu aniversário; pedir a instalação de chuveiros e para contratar barbeiros para eles, na Praça São Pedro. Quando recebeu os 150 sem-teto, apertou a mão de cada um deles, enquanto dizia: “Benvindo. Esta é a casa de todos, é sua casa. As portas estão sempre abertas para todos”.

A indiferença é uma anestesia afetiva, é desamor: o contrário ao amor não é o ódio, mas, sim, a indiferença. O anonimato é a morte, dizia Simonne de Bouvoir: “matá-lo com a indiferença”. O indiferente se mantém à margem, é insensível e frio: “nada me importa”, “para mim dá na mesma”. A indiferença é fria como o fel, encouraça o eu, fecha-o, isola-o e torna-o agressivo, enquanto o outro pensa: “são tão pouco, valho tão pouco, que ninguém se lembra de mim”.

Suas causas podem ser múltiplas e têm a ver com o egoísmo: olhar demasiadamente para si mesmo e olhar muito pouco para o próximo. Influem também as decepções da vida ou feridas do passado. Tantas notícias negativas cauterizam a alma e a enganam: “sinto muito, não posso fazer nada, está acima de mim, não posso intervir…”. Não há pergunta mais exigente, lembra o Papa, do que de Javé a Caim: “Onde está teu irmão?”. E não há resposta mais trágica do que esta: “Por acaso sou o guardião do meu irmão?” (Gn 4,9-10).

Não podemos obrigar ninguém a preocupar-se com o próximo; mas podemos motivá-lo a sair da “casca” e a abandonar sua couraça. Ajuda pensar nas pessoas que se preocupam pelo outro; visualizar rostos e lembrar nomes daqueles que partilharam minha vida. O lava-pés é a expressão mais convincente de Jesus, cuidando dos apóstolos.

Contra o “o que me importa”

Cuidar do outro é saber que “se um membro sofre, todos padecem com ele; se um membro é tratado com carinho, todo os outros se congratulam com ele” (1Cor 12,26). Isso vale para a família, o Movimento de Schoenstatt, o Ramo, a Igreja e também para a escola, o trabalho e o estudo. É preciso começar pelo que conhecemos: “Quem é você?” pode iniciar um diálogo e uma comunicação. Assim poderemos saber o que causa dor no irmão e oferecer-lhe a mão.

Cuidamos dos outros por meio de gestos concretos: “atos são amores e não boas razões”. As boas intenções só contam quando se realizam: como o “bom dia” dito com amor; a ajuda a uma organização solidária e a visita a alguém sozinho e triste. Cuidar não é estar encima do outro, querendo controlá-lo e apenas exigindo dele; é, sim, respeitá-lo no amor.

É bom também não apenas cuidar das pessoas; mas também do que nos cerca e do meio ambiente. A atitude do “o que me importa” faz que cortemos um ramo, um galho, uma flor e joguemos papel na rua. Cuidar é acreditar que Deus nos deu o mundo para fazer dele um paraíso. A ecologia não é propriedade dos partidos verdes mas, sim, de todo bom cristão.

O Evangelho de Mateus fala do cuidado em relação ao juízo final: “ Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu, e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim” (Mt 25,31-46). Vale a pena: a recompensa é infinita. Assim criamos ilhas de misericórdia, como sugeriu o Papa, em meio ao mar de tanta indiferença.

Neste Dia da Aliança, pedimos à Mãe que ela, que cuidou de Jesus e lhe ensinou a falar e a andar, nos ensine a sair e cuidar dos que caminham ao nosso lado. Consola-nos saber que a vida é um espelho: se hoje cuidamos do irmão, a Mãe continuará nos abençoando, porque, como sabemos, ela nunca se deixa vencer em generosidade. Este é nosso estímulo também para, em Schoenstatt, gerar arquipélagos de irmãos que se encontram.

Original em espanhol. Tradução: Maria Rita Fanelli Vianna – São Paulo / Brasil

 

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