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Ayudar a Jesús en los pobres Helping Jesús in the poor Jesus begegnen in den Armen Foto: Bieler © 2005 |
PURA VIDA. Adormeci a rezar pela Anabela, pela Carla, pelo Fernando, pelo Mário... cada um com a sua história triste, e fui dormindo aos solavancos, nunca durmo muito bem nestes dias, parece que tudo não me sai do pensamento, dos olhos e da memória. Depois... tudo se vai esbatendo e a vida retoma a sua rotina. Mas... fica igual? Não sei, penso que não...
A Carla, por exemplo, está grávida de 5 meses, já tem dois filhos, e continua a prostituir-se. Uma barriga inexistente e cheia de fome. O Mário reconheceu que não consegue resistir à heroína! "Tenho tanta pena de não poder estar com as minhas filhas... sou cozinheiro, sou de Aveiro, até tenho uma boa profissão e não é por nada, mas sou muito bom cozinheiro... Mas esta coisa da droga... Eu ganho e não resisto! Vou a correr comprar droga! Até percebo que a minha família me tenha afastado das minhas filhas, mas tenho umas saudades delas, e esta coisa de não conseguir resistir..." baixote, com uns olhos cheios de esperança, e de pena, o Mário lá me foi contando a sua história, reconhecendo o seu drama, à espera do dia em que consiga resistir... E por aí fora as histórias repetem-se na miséria e na infelicidade...
Fomos 2 carros! 6 pessoas, 2 novos: a Zé e o Fernando. Os carros iam completamente cheios - as malas e os assentos - de roupa, sapatos e dos sacos ternura. Desta vez os sacos ternura levavam: 2 tangerinas, 1 triângulo de queijo, uma tablete de chocolate, pastilhas elásticas e rebuçados, um pacote de bolachas, um pacote de leite achocolatado e outro de sumo... 70 sacos.
"Foi um problema de dinheiros..."
A Zé levou também 4 enormes caixas com bola de carne fresquinha, e levávamos ainda a costumada caixa enorme de bolos e croissants que nos é fornecida pela Confeitaria da Foz. Um mimo!!! Chegámos praticamente sem roupa. Os sacos-ternura, esses tiveram que ser logo muito bem administrados. E chegámos à última paragem com pouca roupa...
Onde irá isto parar? "- Porque é que estás na rua?" perguntei àquela rapariga que estava com um "ar de nada" encostada a uma montra da rua Júlio Dinis. "- Droga?" "- Não" "- Prostituição"? "- Não" "- Então? Queres falar?" "- Foi um problema de dinheiros" e calou-se, e eu calei-me. "- Queres comer?" "- Quero". "- Queres roupa?" –" Não obrigada, não tenho onde a guardar" ... A Anabela estava ali, assim, encostada a uma porta, com ar de quem não sabe como vai fazer, onde vai dormir, como vai dormir, ali ao lado de outros sem-abrigo onde talvez sinta alguma protecção... Já veio para a rua há uns dias, estava cheia de fome.
A fome faz muita impressão, o frio que estava era incrível e faz muita impressão, o desamparo da Anabela faz muita impressão, tudo faz muita impressão...
Em Fevereiro voltamos!
Entretanto estou a rezar e a pensar em todos: os que entretanto vão morrer, os que vão continuar, os que quereriam parar, os que vão aparecer, os que já são amigos, por todos, por todos. Muito obrigada por mais este mês. Continuo a dizer: fomos porque vocês existem, fomos levar o que nos confiaram, iremos enquanto vocês nos mandarem. E iremos sempre assim: a rezar, sem julgar, iremos mesmo sem compreender, iremos levar Jesus, iremos para os amar...
"Jesus não tem braços hoje, só tem os nossos braços... Jesus não tem pés hoje, só tem os nossos pés... Jesus não tem boca hoje, só tem os nossos lábios para O anunciar..." IREMOS SEMPRE...
Fundamento e Coroa, Portugal