Derrubar muros, construir pontes de paz e de amorQuaresma de 2004 - Um apelo ao heroísmo do Amor |
ROMA, P. Alberto Eronti. Há uns dias, vi um programa de televisão sobre o conflito israelo-palestino. As imagens que iam passando mostravam o horror da violência e do sangue derramado na "terra de Jesus". Parecia que os rios de sangue não paravam. No final apareceu nas imagens o "novo muro". Não é o "muro das lamentações", lugar venerado pelo povo judeu, mas o muro de divisão entre dois povos. A comprida e cinzenta muralha corta em dois e divide ambos os territórios. O que o constrói diz que quer por todas as razões defender-se do outro. Referindo-se a esta realidade o Papa manifestava a sua opinião a um diplomata árabe: "A paz constrói-se com pontes, não com muros", e tem toda a razão. Ante este drama sanguinário, de morte e divisão, lembrei as palavras de S. Paulo na Igreja de Éfeso: "Tende presente, em Cristo Jesus, que vós, os que noutros tempos estáveis afastados, acabais de vos aproximar pelo Sangue de Cristo". Porque ele é a nossa paz, o que dos dois povos fez um, derrubando o muro divisório, a inimizade". (Efesios, 2,12-13). Deus derrubou o muro e nós homens reconstruímo-lo!Que paradoxo! Jesus "veio" para fazer de dois povos "um", mas há homens que insistem na desunião. Em vez de "se fazerem próximos", "protegem-se" dividindo… Pensei longamente neste mistério de iniquidade humana, política e económica (o muro de cimento é muito oneroso e nas duas partes há pobreza!), e fui levado a outra geografia, a do coração humano. Ainda hoje milhares de visitantes contemplam maravilhados a "muralha da China", há poucos anos assistíamos felizes à queda do chamado "muro de Berlim", hoje assistimos consternados ao "muro da Terra Santa". Mas, estes muros visíveis, palpáveis, são apenas a manifestação de outros muros: os do coração humano. Muros invisíveisA Escritura faz referência a alguns "poderes" do homem. O "poder" de amar, de ser filho de Deus, de ser próximo do necessitado, de vender para seguir Jesus…, mas há também "outro poder", o de expulsar os outros do afecto, o de levantar muros interiores perante as pessoas, de não querer ser "imagem" de Deus, vocação primordial de todo o homem. Este é o "poder" que estamos constatando cada vez de maneira mais dramática e em todos os âmbitos da vida. Há esposos que não se falam, pais e filhos afastados, irmãos em inimizade, vizinhos que não se saúdam, políticos que se insultam, empresários que utilizam os seus operários e os defraudam… Será que no mundo há mais "muros" dos que vemos realmente? Mas, se "Alguém" derrubou o muro! Então? O maior Amor é o que tudo venceEstamos num novo tempo de Quaresma, oportunidade de mudança interior, de conversão do coração, de aligeirar as cargas do desamor. "ˇConvertei-vos!", foi o primeiro pedido de Jesus. Anuncio que repete na e pela sua Igreja em cada início de Quaresma. Trata-se de uma "conversão" ao amor, de um "regresso" ao amor, única maneira de derrubar muros e construir pontes. Para tal não basta a boa vontade nem propósitos esperançosos, necessitamos do "heroísmo do amor", do que falava o nosso Pai e Fundador. Esse heroísmo que Jesus enaltece quando no Sermão de la Montanha ensina à multidão o caminho da liberdade dizendo: "Amai os vossos inimigos, fazei o bem a quem vos odiar, bendizei aqueles que vos maldizem. Àquele que te fere numa face, apresenta-lhe também a outra…" (Lucas. 6,27-28). Que admirável maneira de dizer: o maior amor é o que tudo vence! Vence sem ferir, sem humilhar, sem denegrir. É a isto que Jesus faz referência quando diz: "Aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração". (Mateus.11, 29). Aprendei comigo! Na escola de JesusCreio que todos os que sentimos o chamamento para uma vida de mais oração contemplativa e de adoração eucarística estamos "na escola de Jesus". A adoração contemplativa leva-nos a "olhar o Senhor" com olhos de discípulos. Como João, que na Última Ceia soube escutar o gemido do coração do Mestre; ou como Maria de Betânia, que soube sentar-se aos pés do Nazareno para beber a sua palavra e a sua vida. Não posso deixar de pensar em Maria. Ela usou o seu "poder" de amor para não levantar muros interiores. Não os levantou perante a misteriosa vontade de Deus a quem ofereceu o Filho. Não os levantou diante do seu povo, que gritou pedindo a crucificação, não os levantou diante dos apóstolos que tinham abandonado Jesus. Maria, no auge da Sua dor, não só não levantou muros de separação afectiva, como ainda abriu o seu coração para acolher e sustentar a Igreja que acabava de nascer. A Quaresma, destruidora de muros, dos muros interioresJesus não levantou muros, deixou-se elevar na cruz para nos "atrair" a todos e constituirmos uma família, a família do Pai e do seu amor. Esta pode ser a Quaresma destruidora de muros, dos muros interiores. Pode ser a Quaresma propícia para estender pontes. Estender pontes até àqueles que, pela debilidade do nosso amor, "expulsámos" dos nossos afectos e de que ganhamos distância. Se elevamos a nossa dor e a sujeitamos à cruz de Jesus, todos as pontes são possíveis… Oxalá que nas horas silenciosas de adoração recordemos e repitamos: "Aprendei comigo, aprendei comigo…", e recitemos uma e outra vez o "Nono Mandamento", o que une o nosso amor ao Amor e o torna grande e eficaz: "Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros. Que, como eu vos amei, vos ameis também uns aos outros. Nisto conhecereis todos que sois meus discípulos, se vos tiverdes amor uns a outros" (João.13, 34-35). Estamos no tempo da Quaresma: chegou um tempo de amor e para o amor! Que assim seja! Então a Páscoa será feliz e a vida mais plena, porque Jesus veio para derrubar os muros e construir pontes. Tradução: Luisa Branco, Portugal |
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Last Update: 26.03.2004
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