Posted On 2016-10-23 In Schoenstatteanos

José Antonio Alvaredo: Sempre para o alto

ESPANHA, Pilar de Beas •

No passado dia 19 de maio faleceu José Antonio Alvaredo, membro da União das Famílias de Espanha, o primeiro a partir para o Schoenstatt eterno. A União das Famílias pediu à sua esposa um testemunho sobre a sua vida e o seu compromisso com Schoenstatt. Aqui está.

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Há muito poucos anos, José Antonio escrevia sobre o nosso matrimónio, sobre como conhecemos Schoenstatt e como nos tínhamos sentido interpelados pela nossa Mãe para cumprir uma missão.

Ele entrou em Schoenstatt com 19 anos e esteve na Juventude durante 6 anos, até ao nosso casamento. Ao principio um pouco a medo, já que a palavra “Schoenstatt” soava um pouco “estranha” no início; mas pouco a pouco, foi-se apaixonando pela nossa Mãe e pelo Santuário, até ao ponto de nos casarmos lá, ali foram batizados os nossos seis filhos; fizeram a sua Primeira Comunhão, vários fizeram o Crisma e a mais velha casou-se também à sombra do Santuário.

Uma vez casados, participámos dos cursos pré-matrimoniais em Algete (Madrid), onde residíamos. Passados três anos entrámos na Liga das Famílias; posteriormente fizemos a Consagração como Militantes e logo a seguir, com outros casais, fundámos a União das Famílias em Espanha.

Mas a nossa grande missão, a que o apaixonava, foi a fundação da Eduvida, a associação a que se dedicou de corpo e alma, através dos cursos pré-matrimoniais e de planeamento familiar, junto a outros casais, mães e pessoas de outras comunidades, que enriquecem todos os projetos. Estes foram surgindo por vontade do Senhor e da nossa Mãe. Um deles é o Projeto Encontro, que consiste em sair à noite para acompanhar os sem-abrigo. A ele consagrou boa parte das suas forças – saindo já doente pelas ruas de Madrid – a acompanhar pessoas sós e abandonadas apesar do frio. Foi tal a marca que deixou, que alguns não deixaram de ir ao seu funeral vestidos com a melhor roupa que tinham.

Hoje, infelizmente, ele já não está aqui, porque o Senhor quis levá-lo para o Céu no passado mês de maio.

Ele foi um homem muito “humano”: aventureiro, inquieto, divertido, com uma enorme força de vontade, alegre, autêntico, apaixonado pela vida e pela mulher e filhos. Uma pessoa que lutava pelo que acreditava e queria. Um pai que “estava ali” sempre que fazia falta, um esposo apaixonado e um bom amigo, que sabia pedir perdão, quando a ocasião o requeria, pelo seu forte caráter. Ele era forte e corajoso e, ao mesmo tempo, humilde e simples. Às vezes protestava, mas por trás de cada protesto sabíamos que havia um sim de coração.

Muitas vezes perguntou-me ao longo da vida como seria o momento final: o chamamento de Deus. Que sentiria, como reagiria… Perguntas que estou plenamente segura que muitos de nós nos fazemos ao longo da nossa vida. A resposta deu-ma José Antonio nos últimos anos da sua vida, ou melhor, nos últimos meses, nos quais ele já sentia que a sua missão na terra estava a chegar ao fim.

Há cinco anos que sofria de uma grave doença: fibrose pulmonar. Desde o primeiro minuto que soubemos da gravidade da mesma, já que os médicos deram-lhe, no máximo, quatro anos de vida. O tempo, nestes casos, passa demasiado depressa. No fim de três anos abriu-se uma porta de esperança: um transplante pulmonar.

A sua saúde foi-se deteriorando paulatinamente, até que em dezembro passado, tiveram que o pôr a oxigénio; primeiro durante a noite e depois durante o dia – a sua “coleira de cão” como ele dizia.

A partir desse momento José Antonio começou a sentir o chamamento de Deus e é curioso, mas começou a ter uma paz que só a devem ter as pessoas que vão ver a Deus. A sua vida mudou, de tal maneira, que sendo uma pessoa super-ativa, apaixonada pelas coisas que fazia, com os seus apostolados, os seus estudos… não deixou de vibrar por tudo isso, mas com um “resta-me pouco tempo” e colocando todo o seu esforço em que a sua família, os filhos e eu própria não sofressemos.

Cada vez que não conseguia respirar ou tinha um acesso de tosse, fazia com que não víssemos ou quando acudíamos, afastava-nos para que não notássemos o seu sofrimento e dizia-nos sempre que estava “ótimo” com um sorriso nos lábios.

Nunca se queixou nem quis preocupar-nos e sempre viveu a sua doença como “algo natural”.

No início de maio abriu-se a “porta do transplante” e entrou numa lista de espera que nunca chegou. No dia 11 de maio entrou no hospital com uma infeção respiratória da qual nunca saiu. Entregou a sua alma no dia 19, depois de ter sofrido fisicamente um grande calvário.

Já passaram quatro meses e, na nossa família e círculo de amigos, deixou um grande vazio, um espaço que só a lembrança e a certeza de que está junto a Deus, conseguem serenar um pouco a dor da sua ausência.

Ficarão para sempre o seu sorriso, a sua paixão pela vida, a sua força de vontade e o seu lema: SEMPRE PARA CIMA, PARA O MAIS ALTO.

Assim queremos continuar a viver e sentimos profundamente que ele está ao nosso lado: cuidando de nós e confortando-nos para que quando chegue o dia, possamos desfrutar juntos no Céu, porque disto temos a certeza: de que ele vive em mim e em cada um dos nossos filhos e em cada dia não deixa de o demonstrar de muitas maneiras.

 

161015-alvaredo-01José Antonio Alvarado e Pilar de Beas, sua esposa, em 2015 responderam às “Três perguntas sobre Schoenstatt do segundo século”. Vale a pena ler como umaa herança para o Schoenstatt do segundo século.

 

 Original: espanhol. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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