Posted On 2015-04-26 In Schoenstatt em saída

Eis o madeiro da Cruz

USA, por Rodrigo Fernández, Austin, Texas•

Que experiência inacreditável. Eu ainda não consigo entender como isto aconteceu, da maneira como aconteceu. Depois de dois meses de preparação, reuniões, planos de logística, formulários e pedidos e licenças e stress; o resultado foi muito mais do que poderíamos ter previsto. A mão de Nossa Mãe Santíssima sentiu-se de forma muito tangível.

À 1 da tarde, na catedral, o elenco preparava-se, a polícia fez uma dupla verificação do trajeto, os peregrinos assinavam os impressos de autorização. A previsão do tempo era ruim, com chuva durante toda a tarde. Cerca de uma centena de pessoas compareceram nas escadas em frente das portas da catedral, eram menos do que eu esperava.

Eu proferi algumas palavras, não me lembro do que eu disse, mas lembro-me de ter encontrado os olhos do Padre Patrício e senti que ele parecia estar orgulhoso de mim. O Padre Jesus deu-nos a sua benção, e escoltados pela polícia da cidade, começámos o nosso percurso através das ruas do centro de Austin, seguindo Jesus, deixando o capitólio atrás de nós.

“Eu estou preso no trânsito, Ainda não cheguei à próxima estação, no entanto, a cruz está no meu carro, o que é que eu faço?” “Olhe, há um repórter aqui que quer falar consigo” “A equipe do som ainda não está lá”. E ali estava eu, no meio do caos, tentando improvisar.

Momento inesquecível

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Chegámos a Austin City Hall, zona emblemática da nossa cidade, e aí eu vi o altifalante montado com uma equipe de som sorrindo ao lado, e uma cruz. Enorme e expectante. Eu nunca irei esquecer aquele momento, foi realmente algo especial. Conseguimos algo muito singular. Assim, muitas pessoas testemunharam um grupo de peregrinos verdadeiramente convencidos da importância das suas ações. Um ambiente muito especial foi compartilhado pelo grupo.

“Não posso acreditar que nós estamos a fazer isto” “Olhe quantas pessoas estão a juntar-se a nós, agora somos muitos mais” “Então, aparentemente, não vai chover! Mas as nuvens estão a ocultar-nos o sol ”

De repente dei-me conta: nós éramos realmente pessoas em peregrinação, nós não estávamos caminhando neste percurso sozinhos, tudo estava acontecendo muito melhor do que eu poderia imaginar. Às três da tarde, fizemos uma paragem para descanso. O Padre Patrício conduziu-nos-nos em oração. Que impressão quando senti duas centenas de pessoas, todos em silêncio, ajoelhando em redor de Cristo e da Sua cruz. Continuámos o nosso caminho com o mesmo espírito, sentindo o silêncio em contraste com o caos das nossas vidas quotidianas.

Chegámos à linha de Austin / Travis County. Os polícias à frente iam conduzindo-nos, os policias da retaguarda esperando para nos escoltar o resto do caminho. As pessoas estavam cansadas, o sol fazia-se sentir em cima de nós com muita intensidade, o nosso ritmo é lento.

E começámos a última milha

150413-01-usa-texas-stationsChegámos à primeira estação desde a nossa paragem para descanso. Uma senhora não consegue andar mais. “Precisamos que venham buscar duas senhoras no posto de gasolina. Não, não é esse, é no que está em frente do banco”- “Olhe, está alguém de uma estação de notícias local que lhe quer fazer algumas perguntas”. “Os aspersores estão na próxima estação, o que vamos fazer?” E o grupo continuava sob o sol escaldante.

Chegámos à paragem para descanso. Tínhamos pensado distribuir toalhas molhadas. A equipe “descansos” tinha-se esquecido. Eles chegaram com elas, quando nos estávamos a sentar. Os rostos das pessoas espelharam como aquele simples detalhe fez uma grande diferença. Retomamos o caminho passados poucos minutos, estamos a cumprir o programa.

As estações estavam a ficar cada vez mais intensas. As pessoas cantam músicas, rezam terços, confessam-se com o padre Patrício. A polícia acompanha o nosso caminho, o tráfego pára e Cristo continua o seu caminho da cruz, seguido de perto por Maria e o que parecia serem duzentos peregrinos.

“O Santuário está pronto” “O coro está a fazer uma verificação do som” “Eu sei que soa como uma piada, mas há um outro repórter aqui que quer entrevistá-lo” E começámos a última milha.

Nós parámos debaixo da ponte, no mesmo lugar onde todos os anos tiramos uma foto abanando as nossas bandeiras. Eu olho para Josh Parker, o líder do percurso; temos feito esta peregrinação juntos desde que era um grupo muito menor. Pergunto-lhe “Acredita que isto está a acontecer?” Estamos quase lá.

“O que aconteceu com o jovem que representa Jesus? Ele está bem? Para onde foi?” ” A cena da crucificação no Santuário está pronta? Colocar Mark na cruz, vamos lá chegar em 20 minutos” “Quem tem o sangue falso?” “Eu não entendo onde quer que aconteça essa estação. Você quer o som lá? Que caminho?”

Chegámos ao sinal que indica “Addie Roy Rd.”. Com gritos e risos temos toda a gente reunida. Eu indiquei à fotógrafa que estamos prontos. Coloquei-me em posição e ela tirou a foto com o maior grupo de peregrinação que já tivemos. Penso nas primeiras pessoas que sonhavam com esta peregrinação há muitos anos.

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O silêncio de Sexta feira Santa

Nós fomos até ao morro, encontrámos Judas. A sua entrega é de partir o coração. Os sorrisos desaparecem rapidamente e o grupo respira um ar de silêncio solene. Nós percorremos o nosso caminho lentamente pela estrada 225 Addie Roy, a nossa casa. Podemos ver Cristo na cruz, pronto para as últimas estações com o Santuário de fundo. Nós parámos a alguma distância da cruz. Maria Madalena oferece o seu monólogo e, com ela, nós aproximamo-nos lentamente da cena.

Não conseguimos montar o sistema de som a tempo. Os atores têm de projetar a voz. Algumas das suas palavras perdem-se. Ninguém se parece importar porque o que compartilhámos ao longo do percurso destas nove milhas durante as últimas seis horas diz tudo. Jesus morre na cruz.

As pessoas sentam-se num silêncio total. É feito o anúncio que a Liturgia de Sexta-feira Santa começará dentro de quinze minutos. Com apenas o vento assobiando através das várias fileiras de cadeiras, as pessoas observam a vista impressionante para o Santuário e para as colinas, e refletem sobre tudo o que vivemos nesta caminhada. A liturgia começa nesse ambiente de silêncio.

Quando o sol se está a por, iniciamos a veneração da cruz. Cantamos um cântico que escrevemos para este momento. O sol põe-se e vivemos o resto da liturgia num silêncio escuro.

Logo que terminámos, os peregrinos visitam o Santuário que se sente vazio, triste. Distribuímos um postal com a Cruz da Unidade e uma pequena cruz de metal, uma maneira de lembrar este momento. Eu nem queria acreditar quantas pessoas estavam no nosso Santuário.

Caminhámos até à casa do movimento, para uma sopa quente preparada por uma senhora no Movimento. Ela fez a quantidade suficiente que chegou até para o último peregrino que ficou para o jantar.

E assim termina a primeira Sexta-Feira Santa no nosso novo Santuário em Austin, uma experiência com significado muito para além da minha compreensão.

Original: inglés. Tradução: José Cravo, Lisboa, Portugal

 

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