Posted On 2018-01-18 In José Kentenich

Ele foi capaz de erguer muitos e continuar a ser pessoa, homem, livre, mesmo dentro da prisão

CHILE, Veróncia Gutiérrez •                           

Santiago Labbé é membro do Ramo de Militantes e criou, juntamente com o Padre Rafael Fernández, uma exposição gráfica que, cobre integralmente, o Auditório onde se realizam todas as Jornadas do Santuário Cenáculo de Bellavista em Santiago do Chile. Em entrevista, conta como foi o trabalho e oferece-nos “um tour” através de uma linha de tempo (em ordem cronológica) que ele criou para contar a história de Schoenstatt.

Esta linha de tempo é dual, a que está colocada na parte superior é a linha da história do Movimento e, a da parte inferior contém os Marcos da história universal de Schoenstatt e, nalguns casos, da história chilena do Movimento. No total devem ser uns 20 metros de linha de tempo com imagens e histórias.

Como começas a trabalhar nesta linha do tempo?

Eu tenho uma empresa gráfica. Há algum tempo atrás, encomendaram-me um trabalho para o colégio de San Javier de Puerto Montt, no sul do Chile. Afixámos cartazes educativos em todo o colégio, incluindo as casas-de-banho. Tudo foi pensado para a educação das crianças. Neste trabalho há duas linhas de tempo, uma universal e a outra da história do Chile.

Numa altura em que me encontrei com o Pe. Rafael, falei-lhe sobre o que tínhamos feito e ele ficou cativado pela linha do tempo que eu tinha realizado. Este também era um anseio meu, fazer uma linha do tempo para Schoenstatt e, sempre a imaginei colocada aqui.

Porquê este Auditório em particular?

É aqui que se realizam as Jornadas. É aqui que se entregam conteúdos, é aqui onde se vem para aprender, principalmente, da boca dos Assessores, toda a história de Schoenstatt e do legado que nos deixou o nosso Pai. Então, que sítio melhor, para deixar uma linha do tempo com toda a história do Padre Kentenich.

Noto que a parte superior tende a ser mais a branco e preto e a parte inferior mais a cores

É uma casualidade das fotografias. A parte de cima dos cartazes está mais relacionada com a vida do Pai e a história do Pai e a de baixo com uma história mais universal.

Mas não é o nascimento do Padre Kentenich que marca o início mas, quando Karl Marx publica “O Capital”

O que acontece é que a história do Pai se reporta a um pouco antes porque o Pai acaba sendo uma resposta ao que lhe coube viver. O Pai, se bem que, nasce fisicamente numa data, passa a ser a resposta a coisas que tinham nascido muito antes dele, como o comunismo.

Como escolhes os Marcos da linha de tempo universal? Por exemplo, aqui aparece o naufrágio do Titanic

Foram coisas que, também, iam acontecendo na altura, para que as pessoas também se situem no tempo. É diferente falar do Pai, a quem lhe tocou viver a notícia do naufrágio do Titanic que, quiçá não lhe disse nada mas, são factos que foram acontecendo.

Aqui já começam a aparecer mais personagens, como José Engling e os outros Congregados

Aqui, começa a crescer a Família do Pai e, além disso, começa a ser fundamental a sua história. Aqui, começa a notar-se que ele começa a ser resposta definitiva ao que está a viver, como foi a I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial. Aí sim, já começa a ser fundamental a influência que ele vai exercendo sobre os jovens e sobre a Família.

Como te vais vinculando com a vida do Pai à medida que vais trabalhando? Como te vai afectando à medida que realizas este trabalho?

A mim não me afecta em nada, pelo contrário, enriquece-me. Nós também temos, normalmente, tendência para desanimar e dizer “caramba! Como é difícil o que me calha viver”. Se olhas para o que coube ao Pai, não é nada comparado com ele. Alivia a carga e, também, creio que, é mais fácil dizer: “eu também tenho que ser resposta para os tempos actuais”. Provavelmente, não na mesma que coube ao Pai mas, assumir a missão que me foi entregue.

Aqui na linha do tempo acaba a guerra, o Pai tem um Movimento mais ou menos forjado mas, continua a ser gelatinoso, continua em formação

Já se começam a formar, já aparecem os sacerdotes que são Ordenados no Movimento e, aparecem, os que no início, eram Pallottinos porque não existia esta Congregação (Instituto). Mas, aparecem jovens que, atraídos pelo carisma do Pai, entram no Sacerdócio.

O que se torna num duplo sacerdócio: pallottino e schoenstatteano

Claro. Além disso, aqui neste ponto, o Instituto das Irmãs já tinha sido fundado e elas começam a sair para África e algumas vêm para o Brasil, Argentina e Chile.

Aqui na linha do tempo vemos que está a “Guernica” do Pablo Picasso, um tempo muito duro para Espanha, por causa da guerra civil espanhola, perfeitamente ilustrada com esta pintura

Aqui, já está a ser engendrada a II Guerra Mundial, já Hitler aparece em 1933, nessa altura, já o Nacional-Socialismo vai fazendo das suas, até que, finalmente estala a guerra.

Esta zona da linha do tempo parece mais conflituosa. Aparecem muito mais coisas que a marcaram e, ao mesmo tempo, muito importante para o Movimento. A Mãe é Coroada no ano de 39 e o Padre Kentenich é mandado para Coblença

Aqui, é a etapa mais impressionante do Pai, ver como pôde suportar os horrores do Campo de Concentração e, especialmente, fazer uma coisa tão maravilhosa: resgatar pessoas que caíram no desespero, dar-lhes a força da fé. É muito impressionante! Resistiu a todos os vexames do Campo de Concentração mas, além disso, teve força para ajudar outros que estavam desesperados, ajudou-os a avançar. O que se pretendia nesses lugares era aniquilar a mente, deixá-los incapazes de serem pessoas. Deixá-los como lixo e, ele foi capaz de erguer muitos e continuar a ser pessoa, livre, dentro da prisão. Essa é a época que a mim, pessoalmente, mais me toca.

Como transportas estes ensinamentos para a realidade do dia-a-dia?

Com o muito que ele nos ensinou sobre a santidade da vida diária que, com pequenas coisas se pode fazer muito bem às pessoas que nos rodeiam.

Aqui temos outro período complexo. Já acabaram as guerras mas, o trabalho continua

É impressionante que depois de ter estado num campo de concentração durante três anos, não vai de férias, não vai descansar, volta a trabalhar intensamente. Isso diz-nos sobre a força que ele tinha. Força interior, força física, embora o físico não o ajudasse muito porque só tinha um pulmão. Volta e continua a trabalhar arduamente.

Quando achas que começa a dar frutos reais o Movimento, em que período da história?

Acho que desde o primeiro momento. Quando forma os Congregados. Desde esse momento. Alguns, inclusivamente, foram capazes de dar a vida, por esses princípios que ele lhes inculcou. Que é o que nós deveríamos estar dispostos a fazer.

Estes momentos também são super importantes para o Pai que, são os 14 anos que passou exilado em Milwaukee. Tudo o que pôde dar, tendo estado, inclusivamente, proibido de dizer que era o Fundador de um Movimento. Tivemos a graça de estar em Milwaukee e aí tomámos conhecimento que, toda a gente que o conheceu, não sabia que era o Fundador do Movimento e, quando se vai embora, as pessoas perguntavam porque é que nunca o tinha dito. Até nisso foi fiel à Igreja. Teria sido mais humano renunciar a Ela nessas condições. Esta lealdade a toda a prova à Igreja, a Deus, a Maria… Era impressionante. Quanto ofereceu a todas as famílias.

Quanto tempo te levou a fazer esta linha do tempo completa? Desenhá-la, conceber os Marcos, a estrutura…

O Padre Rafael já o tinha estruturado em Excel, o que tivemos que fazer e fizemos em duas semanas foi juntar as imagens.

Estava a chegar a Jornada Nacional da Militância e quisemos tê-lo pronto como presente para todos os Militantes. Por isso, o fizemos tão rapidamente. Íamo-lo fazendo, enviávamos ao Padre, ele ia corrigindo algumas coisas. Montámo-lo, uma parte na quinta-feira e terminámos na sexta às 5 da manhã e a Jornada começava às 7 da manhã. Acabei, fui a casa tomar duche e vim para a Jornada.

Depois de dar a volta a todo o salão, a linha acaba com a morte do Padre Kentenich. Como achas que continua esta linha?

É a missão que ele nos deixa. Foi uma vida cheia de entrega, de se dar por aqueles que lhe foram confiados e, isso é o que nos fica. Somos chefes da Militância e temos um grupo grande de casais e há muito gente que se deveria ajudar a chegar à fé e, não lhe chegamos nem aos calcanhares do que ele deu. Temos uma certa responsabilidade por aqueles que nos foram confiados.

Como deveria continuar esta linha do tempo? Como vês o futuro?

Oxalá, chegando à canonização do Pai. Por outro lado, tendo o cuidado de que a canonização do Pai não seja uma meta mas, que seja outro Marco. A ideia é que não seja reconhecido por estar num altar mas, pela sua missão, pela sua trajectória. Por exemplo, S. Francisco, ninguém o conhece por estar num altar mas, por tudo o que fez. A meta é ter o Pai reconhecido como um santo, mas, mais do que isso, que seja projectar a missão que nos deixou.

Original: espanhol (9/11/2017). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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