Posted On 2016-04-14 In Francisco - Mensagem

Caminhemos, famílias; continuemos a caminhar!

Por Maria Fischer •

“Cheios de alegria e de amor estamos a lê-la”, comenta Rolf Huber, do Paraguai, do grupo fundador da Pastoral da Esperança, para divorciados em nova união poucos minutos após ter recebido o texto de “Amoris Laetitia”, ainda durante a transmissão da Conferência de Imprensa, na Sala de Imprensa do Vaticano, em que, um Cardeal Christoph Schönborn, radiante de alegria, apresentava a Exortação Apostólica pós-sinodal sobre o amor na família, respondendo a um jornalista que perguntava pela mensagem mais importante do Papa Francisco acerca deste texto: “Leiam-no. Leiam-no, por favor”.

Neste 8 de Abril, o Papa Francisco presenteou todas as famílias, todos nós, com a sua mensagem sobre a alegria no amor, sobre o amor na família.

Enviava-a aos Bispos do mundo inteiro com uma breve nota, escrita por ele próprio, dizendo:

Invocando a proteção da Sagrada Família de Nazaré, tenho o maior prazer em enviar-lhe a minha Exortação “Amoris Laetitia” pelo bem de todas as famílias e de todas as pessoas, jovens e idosas, confiadas ao seu ministério pastoral.

Unidos no Senhor Jesus, com Maria e José, peço-lhe que não se esqueça de rezar por mim.

 

 “Na noite de 13 de março de 2013, as primeiras palavras que o novo Papa eleito Francisco dirigiu às pessoas na praça de São Pedro e em todo o mundo foram: «Boa noite!». Simples como esta saudação são a linguagem e o estilo do novo escrito do Papa Francisco.

A exortação não é tão breve como esta simples saudação, mas muito aderente à realidade. Nestas duzentas páginas o Papa Francisco fala de «amor na família» e fá-lo de forma tão concreta, tão simples, com palavras que aquecem o coração como aquela boa noite de 13 de março de 2013. Este é o seu estilo, e ele espera que se fale das coisas da vida de modo mais concreto possível, sobretudo quando se trata da família, uma das realidades mias elementares da vida”. Foi assim que o Cardeal Christoph Schönborn de Viena, Áustria começou a apresentação do texto.

Antecipando: os documentos da Igreja muitas vezes não pertencem a um género literário dos mais acessíveis. Este escrito do Papa é legível. E quem não se deixar assustar pelo comprimento, encontrará alegria na objectividade e no realismo deste texto. O Papa Francisco fala das famílias com uma clareza que dificilmente se encontra noutros documentos do magistério da Igreja.

Desde os jornalistas, nas suas primeiras reações, até um grupo da União das Famílias da Alemanha reunido nessa mesma noite, houve uma grande e alegre repercussão: É uma linguagem simples e concreta, percebe-se e alegra…

Mons. Baldisseri e Mons. Schönborn na Conferência de Imprensa

A partir da vida real

O Jesuíta Pe. Guillermo Ortiz da Rádio Vaticano, resume-a de maneira magistral:

«A Exortação Apostólica Amoris Laetitia quer reafirmar com vigor não o “ideal abstracto” da família, mas a sua realidade rica e complexa» para refletir «sobre o amor na família» juntamente com as mulheres e os homens do nosso tempo.  O muito esperado documento usa a linguagem da experiência oferecendo um olhar amplo, profundamente positivo, que se nutre não de abstrações nem de projeções ideais, mas de uma atenção pastoral à realidade. Leitura intensa com muitas referências espirituais e com sábia prática, útil para todos os casais ou pessoas que desejam construir uma família, foi fruto de experiência concreta com pessoas que sabem por experiência o que significa a família e a convivência por muitos anos. A Exortação fala, de facto, a linguagem da experiência”

Muito para além, duma mensagem sobre o amor na família, é uma aula de comunicação duma Igreja em saída missionária misericordiosa, em comunicação, à altura do século XXI.

O Cardeal Schönborn aplica-a ao explicar:

“Permitam-me contar-lhes uma experiência do Sínodo de Outubro passado: Que eu saiba, dois dos treze “circuli minori” começaram o seu trabalho pedindo que, cada participante contasse a sua própria situação familiar. Rapidamente, se descobriu que, quase todos os Bispos ou, os outros participantes do “circulus minor” enfrentavam, nas suas famílias, os assuntos, as preocupações, as “irregularidades” das quais, nós, no Sínodo, tínhamos falado de modo algo abstracto. O Papa Francisco convida-nos a falarmos das nossas famílias “tal como são”. E, agora, o maravilhoso do caminho sinodal e da sua continuação com o Papa Francisco: Este sóbrio realismo sobre as famílias “tal como são”, não nos afasta, absolutamente nada, do ideal! Pelo contrário: o Papa Francisco consegue, com o trabalho dos dois Sínodos, situar as famílias numa perspectiva positiva, profundamente rica de esperanças. Mas, esta perspectiva animadora sobre as famílias, exige essa “conversão pastoral” de que fala a Evangelii Gaudium, dum modo tão emocionante. O seguinte parágrafo de Amoris Laetitia enfatiza as linhas diretrizes dessa “conversão pastoral”.

“Durante muito tempo pensámos que, com a simples insistência em questões doutrinais, bioé- ticas e morais, sem motivar a abertura à graça, já apoiávamos suficientemente as famílias, consolidávamos o vínculo dos esposos e enchíamos de sentido as suas vidas compartilhadas. Temos 30 dificuldade em apresentar o matrimónio mais como um caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a carregar a vida inteira. Também nos custa deixar espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites e são capazes de realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os esquemas. Somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las”. (AL 37)

O Papa Francisco fala duma profunda confiança nos corações e na nostalgia dos seres humanos. Percebe-se aqui, a grande tradição educativa da Companhia de Jesus, a responsabilidade pessoal. Fala de dois perigos contrários: O “laissez faire” e a obsessão de querer controlar e dominar tudo. Por um lado, é certo que:” A família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento, guia, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos…. Sempre faz falta vigilância; o abandono nunca é sadio”. (AL 260)

Mas, a vigilância pode, também, tornar-se exagerada:” A obsessão, porém, não é educativa; e também não é possível ter o controle de todas as situações onde um filho poderá chegar a encontrar-se (…) Se um progenitor está obcecado com saber onde está o seu filho e controlar todos os seus movimentos, procurará apenas dominar o seu espaço. Mas, desta forma, não o educará, não o reforçará, não o preparará para enfrentar os desafios. O que interessa acima de tudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia” (AL 261). Acho muito iluminante pôr em conexão este pensamento sobre a educação com os relacionados com a praxis pastoral da Igreja”.

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Misericórdia pastoral

Explica o Cardeal Schönborn

“O Papa Francisco conseguiu falar de todas as situações, sem catalogar, sem categorizar, com esse olhar fundamental de benevolência que tem algo a ver com o coração de Deus, com os olhos de Jesus que, não excluem ninguém (AL 297), que acolhem todos e a todos concedem a “alegria do Evangelho”. Por isso, a leitura de Amoris Laetitia é tão reconfortante. Ninguém deve sentir-se condenado, ninguém, desprezado. Neste clima de acolhimento, o ensinamento da visão cristã do casamento e da família, converte-se em convite, estímulo, alegria do amor, na qual, podemos acreditar e que não exclui, verdadeira e sinceramente, ninguém. Por isso, para mim, Amoris Laetitia é sobretudo e, em primeiro lugar, um “evento de língua”,   como já o foi  a “Evangelii Gaudium”. Algo mudou no ensino eclesial. Esta mudança de linguagem percebia-se já, durante o caminho sinodal. Entre as duas sessões sinodais de Outubro de 2014 e Outubro de 2015 pode ver-se, claramente, como o tom foi enriquecido com a estima, como se aceitaram, simplesmente, as diversas situações da vida, sem as julgar, ou condenar, imediatamente. Em Amoris Laetitia passou a ser o tom linguístico constante. Por trás disto não há, evidentemente, só uma opção linguística, mas um profundo respeito por cada pessoa que nunca é, em primeiro lugar, um “caso problemático”, uma “categoria”, mas um ser humano inconfundível, com a sua história e o seu caminho com e para Deus. Na Evangelii Gaudium o Papa Francisco dizia que deveríamos tirar os sapatos face à terra sagrada do outro (EG 36). Esta atitude fundamental atravessa toda a Exortação. E, é, também, a razão mais profunda para as outras palavras-chave: discernir e acompanhar. Estas palavras não se aplicam, unicamente, às “situações chamadas irregulares” (Francisco faz finca-pé nisto; “as chamadas”!), mas que valem para todas as pessoas, para cada casal, para cada família. Todas, de facto, estão a caminho e, todas precisam “discernimento” e “acompanhamento”.

Pedagogia e confiança

Para Ingeborg e Richard Sickinger, da Áustria, “todo o texto respira a pedagogia do Ideal e a pedagogia da Confiança. Cauciona o que fazemos na Áustria”, dizem, “e obriga-nos a pormo-nos, ainda mais, ao serviço das famílias””.

O Papa Francisco confia na “alegria do amor”. O amor deve encontrar o caminho. É a bússola que nos indica o caminho. É a meta e o próprio caminho. Porque Deus é amor e porque o amor é Deus. Nada é tão exigente como o amor. O amor não se pode comprar. Por isso, ninguém deve ter medo que o Papa Francisco nos convide, com “Amoris Laetitia”, para um caminho demasiado fácil. “O caminho não é fácil mas, é cheio de alegria”, destaca o Cardeal Schönborn.

No parágrafo final o Papa afirma: “Nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada duma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar (…) Todos somos chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e dos nossos limites, e cada família deve viver neste estímulo constante. Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida”. (nº 325)

Fica o convite para ler o texto, meditá-lo, fazê-lo seu…

Qual é o seu parágrafo preferido?

 

Exhortación apostólica postsinodal Amoris Laetitia del Santo Padre Francisco

Exhortación apostólica postsinodal Amoris Laetitia del Santo Padre Francisco, en PDF

 

Original: alemão. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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