Posted On 2015-08-23 In Francisco - Mensagem

A festa é uma invenção de Deus

FRANCISCO EM ROMA•

A festa, o trabalho e a oração são três dimensões que marcam o ritmo da vida familiar, explicou Francisco em sua nova catequese sobre a família no dia 12 de agosto de 2015 na Sala Paulo VI.

Começou pelo tema da festa e afirmou que o verdadeiro tempo de festa, suspende o trabalho profissional, e é sagrado, porque recorda ao homem e à mulher que são feitos à imagem de Deus, o qual não é escravo do trabalho, mas Senhor, e, portanto também nós nunca devemos ser escravos do trabalho, mas “senhores”.

A família: o ritmo da vida familiar – a festa

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje inauguramos um breve percurso de reflexão sobre três dimensões que marcam, por assim dizer, o ritmo da vida familiar: a festa, o trabalho e a oração.

Comecemos pela festa. Hoje falaremos da festa. E dizemos imediatamente que a festa é uma invenção de Deus. Recordemos o desfecho da narração da criação, no Livro do Gênesis, que ouvimos: «Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha feito, descansou do seu trabalho. Ele abençoou o sétimo dia e o consagrou, porque nesse dia repousara de toda a Criação» (2,2-3). É o próprio Deus que nos ensina a importância de dedicar tempo para contemplar e gozar do que mediante o trabalho foi bem feito. Falo de trabalho, naturalmente, não apenas no sentido do ofício e da profissão, mas no seu sentido mais amplo: cada gesto com o qual nós, homens e mulheres, podemos colaborar com a obra criadora de Deus.

Portanto, a festa não é a indolência de ficar sentado no sofá nem a ebriedade de um escapismo insensato… Não, a festa é antes de tudo uma olhar amoroso e agradecido sobre o trabalho bem feito; festejemos um trabalho. Também vocês, recém-casados, estão festejando o trabalho de um lindo tempo de noivado: e isto é bonito! É o tempo para olhar os filhos, ou os netos, que estão crescendo, e pensar: que bonito! É o tempo para olhar a nossa casa, os amigos que hospedamos, a comunidade que nos circunda, e pensar: que coisa boa! Deus agiu assim quando criou o mundo. E continuamente age assim, porque Deus cria sempre, também neste momento!

Pode acontecer que uma festa chegue em circunstâncias difíceis e dolorosas, e talvez seja celebrada “com um nó na garganta”. E no entanto, também nestes casos, peçamos a Deus a força para não a esvaziar completamente. Vocês mães e pais sabem bem isto: quantas vezes, por amor aos filhos, são capazes de superar as penas para deixar que eles vivam bem a festa, saboreando o sentido bom da vida! Há tanto amor nisto!

Também no ambiente de trabalho, às vezes – sem faltar aos deveres! – nós sabemos “inserir” alguma centelha de festa: um aniversário, um casamento, um novo nascimento, assim como uma despedida ou uma chegada de alguém…, é importante. É importante fazer festa! São momentos de familiaridade na engrenagem da máquina produtiva: faz-nos bem!

Mas o verdadeiro tempo da festa, suspende o trabalho profissional, e é sagrado, porque recorda ao homem e à mulher que são feitos à imagem de Deus, o qual não é escravo do trabalho, mas Senhor, e portanto também nós não devemos ser nunca escravos do trabalho, mas “senhores”. Existe um mandamento para isto, um mandamento que se refere a todos, ninguém é excluído! E, no entanto, sabemos que existem milhões de homens e mulheres, e até crianças, escravos do trabalho! Nesta época existem escravos. São explorados, escravos do trabalho e isto é contra Deus e contra a dignidade da pessoa humana! A obsessão pelo benefício econômico e a eficiência da técnica ameaçam os ritmos humanos da vida, porque a vida tem os seus ritmos humanos.

O tempo do descanso, sobretudo dominical, é-nos destinado para que possamos gozar daquilo que não se produz e não se consome, que não se compra e não se vende. E no entanto, vemos que a ideologia da ganância e do consumo quer devorar também a festa: até ela, às vezes, é reduzida a um “negócio”, a um modo de ganhar dinheiro e de gastá-lo. Mas é para isto que trabalhamos? A ganância do consumo, que acarreta o desperdício, é um vírus ruim que, entre outros, nos faz estar mais cansados do que antes. Prejudica o verdadeiro trabalho, consome a vida. Os ritmos desregrados da festa causam vítimas, muitas vezes jovens.

Enfim, o tempo da festa é sagrado porque Deus o habita de um modo especial. A Eucaristia dominical leva à festa toda a graça de Jesus Cristo: sua presença, seu amor, seu sacrifício, seu fazer-se comunidade, seu estar conosco… E é assim, como cada realidade recebe o seu sentido pleno: o trabalho, a família, as alegrias e o cansaço de cada dia, também o sofrimento e a morte; tudo é transfigurado pela graça de Cristo.

A família é dotada de uma competência extraordinária para compreender, orientar e promover o autêntico valor do tempo da festa. Mas que bonitas são as festas em família, são belíssimas! E em particular a festa do domingo. Não é casualidade que as festas nas quais há lugar para toda a família são aquelas mais bem sucedidas!

A própria vida familiar, contemplada com os olhos da fé, parece-nos melhor do que os esforços que implicam. Manifesta-se como uma obra de arte de simplicidade, bonita porque não é artificial, nem fingida, mas capaz de incorporar em si todos os aspectos da vida real. Parece-nos como uma coisa “muito boa”, como Deus disse no final da criação do homem e da mulher (cf. Gn 1, 31). Portanto, a festa é um valioso presente de Deus; um valioso presente que Deus ofereceu à família humana: não o arruinemos! Obrigado.

 

Original: Espanhol – Tradução: Lena Ortiz, Ciudad del Este – Paraguai

 

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