Posted On 2017-02-06 In Francisco - Mensagem

O grande “Sermão da montanha” em tempos de Anti-sermão da montanha

FRANCISCO EM ROMA •

“Estamos em tempos do anti-sermão da montanha”, diz o Pe. Ulrich Hoppe, encarregado da Pastoral na polícia Federal da Alemanha, na sua Homilia numa Paróquia da Grande Colónia, no Domingo 29 de Janeiro. E, os fregueses um bocado adormecidos, de repente, são todos ouvidos enquanto ouvem o que ele diz, com franqueza, do “salvador” do outro lado do Atlântico com a sua promessa de felicidade para os que procuram riqueza, poder, encerramento, exclusão…Convida a ouvir, atentamente, o que diz o Papa Francisco, cita a grande entrevista ao EL PAÍS: “em momentos de crise, o discernimento não funciona e, para mim é uma referência contínua e os povos procuram “salvadores” que lhes devolvam a identidade e defendamo-nos com muros e arame-farpado ou com o que quer que seja, dos outros povos que nos podem tirar a identidade. E, isso é muito grave. Por isso, sempre procuro dizer: dialoguem uns com os outros, dialoguem uns com os outros. Mas o caso da Alemanha em 33 é típico, um povo que estava nessa crise, que procurou a sua identidade e apareceu este líder carismático que prometeu dar-lhes uma identidade, e deu-lhes uma identidade distorcida e já sabemos o que aconteceu…” E Francisco fala do grande Sermão da Montanha, nesse dia, em S. Pedro.

“A vontade de Deus é conduzir os Homens à felicidade.” “Deus está próximo dos pobres e oprimidos e liberta-os”. “O pobre em espírito é o cristão que não confia em si próprio, nas suas riquezas materiais, não se obstina nas suas próprias opiniões mas, escuta com respeito e segue agradado as decisões dos outros”. “Se nas nossas comunidades existissem mais pobres em espírito, existiriam menos divisões, contrastes e polémicas” “Gostaria de sublinhar isto: prefiro partilhar a possuir”.

 

Texto completo das palavras d Papa Francisco no Ângelus, 29. 01. 2017

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

A liturgia deste domingo faz-nos meditar sobre as Bem-Aventuranças (cf. Mt 5, 1-12a), que abrem o grande sermão chamado “da montanha”, a “magna charta” do Novo Testamento. Jesus manifesta a vontade de Deus de conduzir os homens à felicidade. Esta mensagem já estava presente na pregação dos profetas: Deus está próximo dos pobres e dos oprimidos e liberta-os de quantos os maltratam. Mas nesta sua pregação Jesus segue um caminho particular: começa com o termo «bem-aventurados», ou seja, felizes; prossegue com a indicação da condição para ser tais; e conclui fazendo uma promessa. O motivo da bem-aventurança, ou seja, da felicidade, não consiste na condição exigida — por exemplo, «pobres em espírito», «aflitos», «famintos de justiça», «perseguidos»… — mas na promessa sucessiva, que deve ser acolhida com fé como dom de Deus. Parte-se da condição de mal-estar para se abrir ao dom de Deus e aceder ao mundo novo, o «reino» anunciado por Jesus. Este não é um mecanismo automático, mas um caminho de vida na esteira do Senhor, motivo pelo qual a realidade de mal-estar e de aflição é considerada numa perspetiva nova e experimentada segundo a conversão que se realiza. Não podemos ser bem-aventurados se não nos convertermos, se não formos capazes de apreciar e viver os dons de Deus.

Quero meditar sobre a primeira bem-aventurança: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus» (v. 4). O pobre em espírito é quem assumiu os sentimentos e as atitudes daqueles pobres que na sua condição não se rebelam, mas sabem ser humildes, dóceis, disponíveis à graça de Deus. A felicidade dos pobres — dos pobres em espírito — tem uma dúplice dimensão: em relação aos bens e em relação a Deus. Relativamente aos bens, aos bens materiais, esta pobreza em espírito é sobriedade: não necessariamente renúncia, mas capacidade de apreciar o essencial, de partilhar; capacidade de renovar todos os dias a admiração pela bondade das coisas, sem sucumbir à opacidade do consumo voraz. Quanto mais tenho, mais quero; quanto mais tenho, mais quero: esse é o consumo voraz. E isso mata a alma. E o homem ou a mulher que faz isso, que tem essa atitude “quanto mais tenho, mais quero”, não é feliz e não alcançará a felicidade. Em relação a Deus é louvor e reconhecimento que o mundo é bênção e que na sua origem está o amor criador do Pai. Mas é também abertura a Ele, docilidade à sua senhoria: Ele é o Senhor, Ele é o Grande, eu não sou grande porque tenho muitas coisas! É Ele: Ele que quis o mundo para todos os homens e o quis para que os homens fossem felizes.

O pobre em espírito é o cristão que não confia em si mesmo, nas riquezas materiais, não se obstina nas suas opiniões pessoais, mas escuta com respeito e aceita de bom grado as decisões de outros. Se nas nossas comunidades existissem mais pobres em espírito, haveria menos divisões, contrastes e polémicas! A humildade, como a caridade, é uma virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs. Os pobres, nesse sentido evangélico, parecem-se com aqueles que mantêm viva a meta do Reino dos céus, fazendo entrever que este é antecipado de forma germinal na comunidade fraterna, que à posse privilegia a partilha. Gostaria de sublinhar isto: à posse privilegiar a partilha. Ter sempre o coração e as mãos abertas (faz o gesto), não fechadas (faz o gesto). Quando o coração está fechado (faz o gesto), é um coração apertado: nem sequer sabe como amar. Quando o coração está aberto (faz o gesto), se encaminha para a senda do amor.

A Virgem Maria, modelo e primícia dos pobres em espírito, porque totalmente dócil à vontade do Senhor, nos ajude a abandonar-nos a Deus, rico em misericórdia, a fim de que nos enche dos seus dons, especialmente da abundância do seu perdão.

Coordenação da tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal. Tradução das palavras do Santo Padre: vatican.va

 

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