ENTREVISTA ao Reitor Egon M. Zillekens
De segunda-feira, 23 de Outubro de 2017, atá sexta-feira, 27, os membros da Presidência Geral estiveram em Roma, a celebrar a sua Jornada anual de encerramento. Já foi publicada uma informação oficial do encontro com o Cardeal Farrel. Circulam pelo mundo fora as fotografias do encontro com o Papa Francisco (do Osservatore Romano), durante e depois da Missa em Santa Marta, acompanhadas do texto da Homilia. O Pe. Egon Zillekens pôs-se à disposição de schoenstatt.org para uma entrevista, logo a seguir ao seu regresso de Roma.
Como viveu o encontro com o Cardeal Farrel, presidente do Dicastério para os Leigos, Família e Vida? Para si o que foi o mais importante?
O Cardeal Kevin Farrel não conhecia Schoenstatt; essa foi a primeira surpresa. Não se cruzou com Schoenstatt durante a sua actividade como sacerdote e Bispo em Washington e Dallas.
Quando nos apresentámos e lhe apresentámos as nossas Comunidades, impressionou-me especialmente, como falou sobre o objectivo e a tarefa de preparar os leigos para o seu trabalho na Igreja. E disse: “foi o grande objectivo do Concílio e vocês reconheceram-no e tiveram-no em conta, em Schoenstatt, há cem anos”. O presidente do novo Dicastério para os Leigos, Família e Vida disse no seu primeiro encontro com Schoenstatt: “o Pe. Kentenich antecipou-se ao Concílio”.
Expôs muito claramente que a Igreja trata-se de leigos e famílias. Pois, trata-se de uma Igreja, na qual há cada vez menos sacerdotes e que tem que se posicionar e agir no mundo, cada vez mais, com base na convicção pessoal e na decisão individual de cristãos.
Falou da sua própria família, provavelmente os filhos ainda vão à Igreja mas, e os netos? Isto, já foi vivido por nós todos.
Por isso, o Papa Francisco insistiu, constantemente, durante três meses: os leigos, a Juventude e as famílias.
O Cardeal Farrel ouvia com muita atenção, quando as nossas Famílias da União e do Instituto falaram sobre as suas iniciativas no âmbito do casamento e da família. Disse-nos: é importante a preparação para o casamento, o acompanhamento dos casais e a formação de treinadores familiares, porque “nós, os sacerdotes, somos pouco credíveis na preparação e acompanhamento de casais” e, por isso, deveriam ser “casais quem prepare os noivos” e estes casais precisam de uma preparação e acompanhamento, para poderem acompanhar outros. Impressionou-me muito quando disse que o maior “pecado” da Igreja desde o Concílio foi não ter formado e acompanhado suficientemente os casais.
Um dos presentes que entregámos ao Cardeal, foi o livro do discurso do Papa Francisco, na Audiência de 25 de Outubro de 2014, em espanhol e em inglês. Nessa altura e dentro do tema “Família”, o Papa recomendou-nos pontos muito concretos que, o Cardeal mencionou neste encontro.
Mais tarde, demo-nos conta que estávamos com o Cardeal Farrel precisamente no aniversário da Audiência com o Papa, 25 de Outubro, três anos depois.
Como foi ter durante o encontro o “nosso” Pe. Alexandre como Secretário do Dicastério?
Foi uma coisa especial. O Pe. Alexandre saiu ao meu encontro logo que chegámos e isso foi para mim bastante familiar, visto que, nos tínhamos reunido em finais de Agosto e tínhamos falado do seu novo cargo. A seguir ao encontro com o Cardeal, estivemos no gabinete do Pe. Alexandre e visitámos juntos a linda capela, na qual está uma preciosa relíquia do sangue do Papa João Paulo II.
A representação, atrás do Altar da capela, de uma semente brotando que produz ricos frutos ajusta-se exactamente a este lugar.
Pessoalmente, como viveu o encontro com o Papa Francisco?
Chegámos às seis da manhã e ainda estava tudo fechado. A essa hora não havia trânsito em Roma, a viagem de Belmonte para o Vaticano foi feita em 25 minutos. Às seis abriram-se as primeiras barreiras em frente da porta, começaram os usuais controlos e às seis e meia entrámos na capela. A primeira surpresa e alegria que tive foi o encontro com o Director Executivo de Adveniat, o Pe. Michael Heinz SVD e o seu antecessor, Bernd Klaschka. Com ele fui missionário na América Latina. Naturalmente, surgiu na conversa a menção ao seu predecessor, o Padre de Schoenstatt Dieter Spelthahn. Quando esteve como jovem sacerdote em La Plata, veio o Pe. Juan Pablo Catoggio para Schoenstatt – aí se estendeu a ponte. Tinham chegado cerca de 15 sacerdotes para a Missa e três Bispos. Os encarregados da ordem indicaram-nos os nossos lugares e deixaram muito claro que já não se podia tirar fotografias. Um dos encarregados da ordem convidou o Sr. Kanzler e o sr. Neiser para o “piccolo servizio” que era levar ao Altar, durante o Ofertório, o vinho e a água e encarregaram-nos do lava-mãos. Houve muitas piadas, depois, durante o pequeno-almoço que, agora, já eram “clericetti”, pequenos clérigos – e nenhum dos dois tinha sido Acólito.
Depois ficámos à espera do Papa…
Como experimentei o Papa? Em muitos aspectos diferentes.
Um sacerdote reflexivo, que está muito perto de Jesus
O Papa saiu da Sacristia para a Missa, um pouco encurvado, com passos pesados, tão discreto e humilde como um simples irmão. Torna-se tão próximo pelas muitas coisas que se publicam e que partilhamos.
Pensei no seu comentário anterior ao Conclave, disse que a seguir ao Papa viajante e ao Papa erudito, devia vir um Papa que pusesse em prática as coisas e estivesse muito perto de Jesus.
Então, dirigiu-se ao ambão e lá, converteu-se noutra pessoa:
Cheio de vida, pastoral, apaixonado – o Pároco de Santa Marta
Fala livremente sobre os textos das Leituras do dia e ganha vida como um Pároco que fala a uma Paróquia familiar. O Osservatore Romano chama à secção com os textos das suas Missas matinais “O Pároco de Santa Marta”. É correcto, está cheio de vida, apaixonadamente pastoral.
Seguiu-se uma celebração Eucarística muito reverente e piedosa, em paz e cheia de emoção e, a seguir, uma longa Acção de Graças, durante a qual o Papa se senta com a sua túnica branca numa cadeira singela com a vista pousada na Imagem da Santíssima Virgem. Todos ficamos muito calados, especialmente o homem que, de repente, tinha o Papa sentado ao seu lado!
E também o cumprimento do dever
Depois da Missa o momento em que o Papa aperta a mão a cada um. Estão dois fotógrafos e o Papa vê-se (como poderei dizê-lo?) arrastado para o local onde deve colocar-se, para que todos façam uma fila para o beija-mão. Deu-me a impressão de um acto de cumprimento do dever, que tantas vezes o Papa tem que fazer.
Chegaram os encontros pessoais e o tempo deteve-se
Ele ouve cada um, tem um tempo para cada um. Nós, os schoenstatteanos deixámos passar os outros e esperámos, mas ficou muito claro para nós: todos chegam ao Papa.
O primeiro foi o Pe. Juan Pablo Catoggio, houve um abraço cordial e amistoso. Ofereceu ao Papa um “Rumo ao Céu” em espanhol e um postal que todos tínhamos assinado.
Eu fui o segundo ou o terceiro. Levava o livro “Maria é minha mãe” em alemão, estendi-lhe a mão, olhei-o nos olhos. Pus o livro à frente e disse-lhe em espanhol: “Também o temos em alemão, traduzimo-lo”. Houve um instante de silêncio, olhou para o livro detidamente, creio que sabia que livro era. Fez uma pequena reverência e disse em alemão: “Danke schön”. Foi tudo muito espontâneo e próximo.
Quando já todos lhe tinham apertado a mão, quisemos fazer uma fotografia de grupo com ele, o Papa aceitou com gosto.
O Papa disse no fim: “Rezem por mim” e uma, da presidência, disse: “Fazêmo-lo na realidade”. Foi muito engraçado, todos se riram, também o Papa Francisco se riu com gosto e no meio dos risos a pergunta: “a favor ou contra mim?”. Então houve uma grande gargalhada.
Fiz-me imediatamente a pergunta: Porque nos diz isto precisamente a nós? Foi apenas uma brincadeira ou é mais qualquer coisa? Senti-me aludido com a pergunta, para mim foi mais do que uma brincadeira ou um modo de falar.
A seguir, estivemos com as Irmãs de Maria no Santuário Cor Ecclesiae e cantámos agradecidos o Magnificat. As Irmãs obsequiaram-nos com um magnífico pequeno-almoço.
Houve mais encontros nessa semana?
Sim. Fomos convidados pela Comunidade de Sant’Egídio e fomos recebidos pelo seu Secretário-geral, Cesare Zucconi. É surpreendente o que consegue esta jovem Comunidade – foram os organizadores do Encontro Mundial para a Paz “Paths of Peace”, em Münster, ao qual assistiu a Chanceler Merkel. Esta Comunidade negociou estados de cessar-fogo e negociações de paz e foi a voz dominante na erradicação da pena de morte e da política para os refugiados. O seu compromisso político é só uma parte. Por detrás da ideia da amizade com os pobres e, mais concretamente, com a condição de que cada um tenho um amigo entre os pobres. Isto só se consegue com a oração, a oração diária à noite. Na realidade, a oração é fundamental em Sant’Egídio, uma Comunidade que, como Schoenstatt, foi fundada por jovens.
Apercebi-me claramente da amizade entre o Pe. Cesare e o Pe. Heinrich Walter que trabalham desde há anos em “Juntos pela Europa”. Impressionaram-me também as salas do antigo convento que serve de lar a Sant’Egídio.
Chamou-me a atenção a proximidade e também a diversidade dos nossos Movimentos.
Pessoalmente, trouxe comigo uma frase do Pe. Cesare: “Tudo funciona apenas com o diálogo”.
Pessoalmente, como viveu Belmonte? Faltam poucas semanas para a inauguração da Casa de retiros
Desta vez já pudemos viver na Casa e estivemos muito bem.
Todas as noites havia Adoração no Santuário.
Na última noite o pequeno Movimento de Schoenstatt de Belmonte preparou uma Vigília mariana e, a seguir, houve um serão com música de piano, baile, cânticos, vinho e pizza. Também estava presente o Bispo da Diocese de origem do Reitor, Marcelo Cervi, e também os seus pais. Houve um ambiente muito bom e relaxado e, assim vivemos estes dias em Roma, todos os da Presidência Geral, num ambiente bom e aberto.
No dia 26/10/2017 completaram-se exactamente 52 anos da visita do Pe. Kentenich ao terreno e, por essa razão, foi lido um texto do Bispo Auxiliar Tenhumberg.
Que assuntos se tratam habitualmente numa Jornada de encerramento da Presidência Geral?
Haverá um relatório da Instância de Coordenação Internacional, sobre o qual não quero adiantar nada aqui.
Muito obrigado, Reitor Zillekens, pela entrevista.
Original: alemão (30.10.2017). Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal