Posted On 2016-11-16 In Igreja - Francisco - movimentos

Jubileu dos excluídos: Precisamos de fazer amizade com os pobres e os sem-abrigo

Ary Waldir Ramos Díaz, via Aleteia.org

O Jubileu dos pobres é o último encontro do Ano Santo convocado pelo Papa Francisco e realizou-se no Vaticano e nas Dioceses de todo o mundo de 11 a 13 de Novembro de 2016.

Os excluídos, os deserdados, os sem-abrigo, os pobres, os privados de uma casa, de um trabalho, de uma família e, especialmente, da dignidade, são os escolhidos pelo Pontífice para encerrar o Ano Santo da Misericórdia.

Na sexta-feira, o Papa acolheu-os pessoalmente na Aula Paulo VI no Vaticano. No sábado de manhã participaram na Audiência Jubilar na Praça de S. Pedro e de tarde assistiram a um concerto em sua honra pelo maestro e prémio Oscar Ennio Morricone.

Uma Igreja humilde, que não se pavoneie com os poderes, as grandezas. Humildade não significa uma pessoa lânguida, sem vontade, que tem os olhos em alvo… Não, isto não é humildade, isto é teatro! Isto é fingir humildade. A humildade tem um primeiro passo: “Eu sou pecador” (Papa Francisco, 15 de Dezembro de 2015).

Finalmente, centenas de pobres, estiveram no centro da Missa de Domingo, 13 de Novembro. Precisamente, por causa do Jubileu das pessoas socialmente excluídas, entrevistámos Carlo Santoro, representante da Comunidade de Santo Egídio, convidado pelo Gabinete de Imprensa da Santa Sé, para apresentar o acontecimento em Roma.

Invisíveis que estragam a compostura da cidade

Neste contexto, o papel de Santo Egídio no Jubileu é fazer emergir a realidade dos sem-abrigo em Roma. Apesar das multidões de turistas e de fiéis que visitam o Vaticano, “os pobres sempre lá estiveram”. Daí que apareçam histórias de vida quotidiana e, por vezes, de incompreensão.

Num autocarro romano à hora de ponta entrou um ancião com as roupas esburacadas. As senhoras de um grupo de turistas murmuravam na entrada dos passageiros o “asqueroso” e “repugnante” do cheiro que vinha do lado oposto do autocarro. Uma delas levantava a voz contra a perda da beleza cultural da capital italiana.

“Todas as noites encontramos pobres em S. Pedro e em várias partes da Cidade Eterna”. Os descartados da sociedade, como são chamados pelo Papa Francisco, são pessoas que é melhor não ver”.

Santo Egídio propõe-se, pelo contrário, a amizade com os pobres e dar visibilidade à dignidade desses sem-abrigo.

“Obviamente, não julgo ninguém. Digo que é uma coisa que se ouve também dentro de nós” (em referência à voz da senhora do autocarro). Neste sentido, a construção dos duches, a barbearia e as casas-de-banho – sob a colunata de Bernini na Praça de S. Pedro – serviram para realçar a dignidade que se julgava perdida”.

Empatia com os sem-abrigo

“O importante é compreender, sem julgar e sem preconceitos, esta realidade. Finalmente, tentar ser solidários: se eu estivesse no lugar deles (dos sem-abrigo), se eu esta noite não tivesse uma casa, uma casa-de-banho, uma cama e tivesse que dormir à intempérie: O que faria?

Isto significa coisas muito concretas. Significa ter um olho aberto e outro fechado enquanto dormes, pensar que te podem roubar tudo. Mas também, que não podes confiar em ninguém”, explica a Aleteia, Santoro.

A Comunidade de Santo Egídio em Roma organiza várias actividades para as pessoas excluídas durante todo ano, desde os refeitórios populares até projectos de integração através da formação e do emprego.

“Cursos de padaria – por exemplo – ofícios que os romanos já não querem fazer porque são feitos praticamente de noite”, contou Santoro.

Às vezes, é necessário derrubar este muro de inimizade entre nós e os pobres. Cada um de nós pode tentar compreender e ajudar os pobres a recuperarem a dignidade própria porque cada ser humano tem uma dignidade intrínseca”.

Com efeito, o Papa Francisco exorta a olhar e a tocar o pobre quando se lhe dá esmola ou se lhe presta ajuda. É um primeiro acto de misericórdia: ver o rosto de quem sofre para ver para além dos números ou das aparências.

O rosto dos deserdados

“O Papa fala dos pobres em cada lugar que visita. É preciso dizer que, quando era Arcebispo de Buenos Aires ia aos casebres, onde nós (Santo Egídio) vamos levar a escola às crianças”, explica.

Finalmente, já conhecíamos, anteriormente, o seu amor pelos pobres. O desejo de Bergoglio de partilhar a vida deles, é o Bispo que passeia pela cidade. Quando o Papa chegou a Roma deve ter-se dado conta de que a cidade – ainda que já a tivesse visitado várias vezes – era cosmopolita, cheia de turistas, peregrinos e fiéis. Mas, com muitos pobres”.

O Papa, de todas as vezes que teve ocasião falou dos pobres como pessoas onde ir buscar inspiração. Os pobres são a verdadeira riqueza da Igreja.

“Esta é a herança que nos promete o Senhor: “Deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre, confiarás no nome do Senhor”, diz-nos o Papa Francisco.

“Na Praça de S. Pedro, uma vez, mandou entregar um livrinho do Evangelho a alguns sem-abrigo. Este foi um gesto muito significativo porque nos dizia: “a Palavra de Deus é-nos dada pelos pobres”. Isto é um facto muito importante, frequentemente, pensamos nos pobres como se não tivessem uma vida espiritual. Pelo contrário, por ser o último evento do Ano Santo, o Jubileu dos excluídos, vemos neles impregnado o tema da misericórdia”.

A verdadeira fé é tomarmos consciência dos pobres que nos rodeiam”, disse o Papa Francisco numa das suas Homilias em Santa Marta.

Os indigentes que morrem pelas ruas

Santoro também lembra a história de Willy, o indigente evangelizador que foi enterrado no cemitério teutónico do Vaticano ao lado de príncipes e de artistas, em Fevereiro de 2015. Uma história comovedora pela espiritualidade demonstrada por um homem que não tinha mais nada senão a sua própria fé.

Também, reivindicou para eles, um direito esquecido, que é o direito a serem sepultados. “Muitos deles acabavam no anonimato total”. Por isso, desde há muitos anos organizamos em fins de Janeiro, funerais e uma Missa por alma dos sem-abrigo falecidos em cada ano”.

“Têm direito a serem lembrados como uma pessoa, um ser querido”, afirma.

Bento XVI entre o servir e o dar: a amizade com os pobres

Carlo Santoro, representante da Comunidade, não gosta da frase “assistir um pobre”. E, explica que isto levanta uma barreira entre eles e nós.

“O Papa Bento XVI veio ao nosso refeitório social e comeu com os pobres. Depois, fez-nos um discurso iluminador: “Este lugar é bonito porque se confunde o papel de quem serve com o de quem é servido”.

Assim, marcou a diferença entre o papel dos “assistentes sociais” e as pessoas comuns (professores, profissionais, estudantes,etc) que na Comunidade de Santo Egídio entabulam uma “amizade” com os pobres. Uma relação que tem duas vias que se alimentam de dar e de receber, em apreço sincero.

“Quando se entabula uma amizade com um pobre, eles têm a vida deles e nós a nossa, mas nós não somos assistentes, mas que eles fazem parte da Igreja num sentido completo”.

Em casos concretos, “rezamos com eles, organizamos orações, por exemplo, em S. Pedro, ao menos uma vez por mês”.

Original: espanhol. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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