Posted On 2015-07-08 In Francisco - Mensagem, Igreja - Francisco - movimentos

“Aquele que ama serve. Na família tornamo-nos servidores uns dos outros por amor”

Pela redação •

Num momento da transmissão ao vivo vê-se um homem com um grande quadro da Mãe três vezes Admirável de Schoenstatt nas mãos. Uma ilustração bonita da mensagem do Santo Padre Francisco na Missa em Guayaquil, Equador, uma mensagem sobre Maria como mãe e sobre a grande esperança: ” E o melhor dos vinhos ainda não chegou, mesmo que todas as variáveis e estatísticas digam o contrário…”

Na Santa Missa dedicada à família, no Parque dos Samanes de Guayaquil, o Papa Francisco refletiu sobre a importância que tem rezar com os nossos familiares, “a fé mistura-se com o leite materno: experimentando o amor dos pais sente-se próximo o amor de Deus”. Perante um recinto completamente cheio de fiéis entusiasmados,o Santo Padre aprofundou o significado da passagem do Evangelho de João que fala das bodas de Caná, e honrou o facto de que a Virgem Maria dissesse a Jesus que já não tinham mais vinho para a celebração, ou seja, preocupou-se com a organização do evento, e assim Francisco acrescentou “ Não se fecha em si mesma, não se encerra no seu mundo; o seu amor fá-la “ser para” os outros. ¨Maria é simplesmente mãe¨, disse, ¨Maria é mãe, ¨Maria é mãe¨, fez repetir aos presentes.

Convidou a todos a abrirem-se ao milagre de transformação, ao amor misericordioso de Deus que sabe tomar a água para oferecer o vinho que falta.

“Pouco antes de começar o Ano Jubilar da Misericórdia, a Igreja vai celebrar o Sínodo Ordinário dedicado às famílias, para amadurecer um verdadeiro discernimento espiritual e encontrar soluções e ajudas concretas para as inúmeras dificuldades e importantes desafios que hoje a família deve enfrentar. Convido-vos a intensificar a vossa oração por esta intenção: para que, mesmo aquilo que nos pareça impuro como a água das talhas, nos escandalize ou nos espante, Deus – fazendo-o passar pela sua «hora» – possa milagrosamente transformá-lo. Hoje a família precisa deste milagre.

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Texto completo da homilia do Papa na Missa pelas famílias

A passagem do Evangelho que acabámos de ouvir é o primeiro sinal portentoso que se realiza segundo a narrativa do Evangelho de João. A preocupação de Maria, transformada em súplica a Jesus: «Não têm vinho!» – disse-Lhe – e a referência à «hora» compreender-se-ão, depois, nos relatos da Paixão.

É bom que assim seja, porque permite-nos ver a ânsia de Jesus por ensinar, acompanhar, curar e alegrar, a começar da súplica de sua Mãe: «Não têm vinho!»

As bodas de Caná repetem-se em cada geração, em cada família, em cada um de nós e nossas tentativas de fazer com que o nosso coração consiga apoiar-se em amores duradouros, em amores fecundos e em amores felizes. Demos um lugar a Maria, «a mãe», como diz o evangelista. E façamos com Ela agora o itinerário de Caná.

Maria está atenta, está atenta naquelas bodas já iniciadas, é solícita pelas necessidades dos esposos. Não Se fecha em Si mesma, não Se encerra no seu mundo; o seu amor fá-La «ser para» os outros. Nem procura as amigas para comentar o que se está a passar e criticar a má preparação das bodas. E como está atenta, com a sua discrição dá-Se conta de que falta o vinho. O vinho é sinal de alegria, de amor, de abundância. Quantos dos nossos adolescentes e jovens percebem que, em suas casas, há muito que não existe desse vinho! Quantas mulheres, sozinhas e tristes, se interrogam quando foi embora o amor, quando o amor se diluiu da sua vida! Quantos idosos se sentem deixados fora da festa das suas famílias, abandonados num canto e já sem beber do amor diário dos seus filhos, dos seus netos, dos seus bisnetos. A falta desse vinho pode ser efeito também da falta de trabalho, das doenças, situações problemáticas que as nossas famílias atravessam em todo o mundo. Maria não é uma mãe «reclamadora», nem uma sogra que espia para se consolar com as nossas inexperiências, os nossos erros ou descuidos. Maria, simplesmente, é mãe! Permanece ao nosso lado, atenta e solícita. É belo escutar isto: Maria é mãe! Tendes coragem para o dizer todos juntos comigo? Então: Maria é mãe! Outra vez: Maria é mãe! Outra vez: Maria é mãe!

Maria, porém, no momento em que constata que falta o vinho, dirige-Se com confiança a Jesus: isto significa que Maria reza. Vai ter com Jesus, reza. Não vai ao chefe de mesa; apresenta a dificuldade dos esposos directamente a seu Filho. A resposta que recebe parece desalentadora: «E que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora» (v. 4). Mas, entretanto, já deixou o problema nas mãos de Deus. A sua aflição com as necessidades dos outros apressa a «hora» de Jesus. E Maria é parte desta hora, desde o presépio até à cruz – Ela soube «transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura» (EG 286), e recebeu-nos como filhos quando uma espada Lhe trespassava o coração –, Maria ensina-nos a deixar as nossas famílias nas mãos de Deus; ensina-nos a rezar, acendendo a esperança que nos indica que as nossas preocupações também preocupam a Deus.

E, rezar, sempre nos arranca do perímetro das nossas preocupações, fazendo-nos transcender aquilo que nos magoa, o que nos agita ou o que nos faz falta a nós mesmos, e nos ajuda a colocarmo-nos na pele dos outros, calçarmos os seus sapatos. A família é uma escola onde a oração também nos lembra que há um nós, que há um próximo vizinho, patente: que vive sob o mesmo tecto, que compartilha a vida e está necessitado.

E, finalmente, Maria actua. As palavras «fazei o que Ele vos disser» (v. 5), dirigidas aos serventes, são um convite dirigido também a nós para nos colocarmos à disposição de Jesus, que veio para servir e não para ser servido. O serviço é o critério do verdadeiro amor. Aquele que ama serve, põe-se ao serviço dos outros. E isto aprende-se especialmente na família, onde nos tornamos servidores uns dos outros por amor. Dentro da família, ninguém é descartado; todos valem o mesmo.

Lembro-me que uma vez perguntaram à minha mãe qual dos cinco filhos – nós somos cinco irmãos – qual dos cinco filhos amava mais. E ela disse [mostra a mão]: como os dedos, se me picam este dói-me o mesmo que se me picam outro. Uma mãe ama seus filhos como são. E, numa família, os irmãos amam-se como são. Ninguém é descartado.

Lá, na família, «aprende-se a pedir licença sem servilismo, a dizer “obrigado” como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância; lá se aprende também a pedir desculpa quando fazemos algo de mal, quando nos ofendemos. Porque, em toda a família, há ofensas. O problema é depois pedir perdão. Estes pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia» (LS 213). A família é o hospital mais próximo, quando uma pessoa está doente cuidam-na lá enquanto se pode. A família é a primeira escola das crianças, é o grupo de referência imprescindível para os jovens, é o melhor asilo para os idosos. A família constitui a grande «riqueza social», que outras instituições não podem substituir, devendo ser ajudada e reforçada para não perder jamais o justo sentido dos serviços que a sociedade presta aos seus cidadãos. Com efeito, estes serviços que a sociedade presta aos cidadãos não são uma espécie de esmola, mas uma verdadeira «dívida social» para com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum de todos.

A família também forma uma pequena Igreja – chamamo-la «Igreja doméstica» – que, juntamente com a vida, canaliza a ternura e a misericórdia divina. Na família, a fé mistura-se com o leite materno: experimentando o amor dos pais, sente-se mais perto do amor de Deus.

E, na família – disto todos somos testemunhas -, os milagres fazem-se com o que há, com o que somos, com aquilo que a pessoa tem à mão. Muitas vezes não é o ideal, não é o que sonhamos, nem o que «deveria ser». Há aqui um detalhe que nos deve fazer pensar: o vinho novo, o vinho melhor, como o designa o mestre de mesa nas bodas de Caná, nasce das talhas de purificação, isto é, do lugar onde todos tinham deixado o seu pecado… Nasce do «piorzinho», porque «onde abundou o pecado, superabundou a graça» (Rm 5, 20). E na família de cada um de nós e na família comum que todos formamos, nada se descarta, nada é inútil. Pouco antes de começar o Ano Jubilar da Misericórdia, a Igreja vai celebrar o Sínodo Ordinário dedicado às famílias, para amadurecer um verdadeiro discernimento espiritual e encontrar soluções e ajudas concretas para as inúmeras dificuldades e importantes desafios que hoje a família deve enfrentar. Convido-vos a intensificar a vossa oração por esta intenção: para que, mesmo aquilo que nos pareça impuro como a água das talhas, nos escandalize ou nos espante, Deus – fazendo-o passar pela sua «hora» – possa milagrosamente transformá-lo. Hoje a família precisa deste milagre.

E toda esta história começou porque «não tinham vinho» e tudo se pôde fazer porque uma mulher – a Virgem Maria – esteve atenta, soube pôr nas mãos de Deus as suas preocupações e agiu com sensatez e coragem. Mas há um detalhe, não é menos significativo o dado final: saborearam o melhor dos vinhos. E esta é a boa nova: o melhor dos vinhos ainda não foi bebido, o mais gracioso, o mais profundo e o mais belo para a família ainda não chegou. Ainda não veio o tempo em que saboreamos o amor diário, onde os nossos filhos redescobrem o espaço que partilhamos, e os mais velhos estão presentes na alegria de cada dia. O melhor dos vinhos aguardamo-lo com esperança, ainda não veio para cada pessoa que aposta no amor. E na família há que apostar no amor, há que arriscar no amor. E o melhor dos vinhos ainda não veio, mesmo que todas as variáveis e estatísticas digam o contrário; o melhor vinho ainda não chegou para aqueles que hoje vêem desmoronar-se tudo. Murmurai isto até acreditá-lo: o melhor vinho ainda não veio. Murmurai-o cada um no seu coração: o melhor vinho ainda não veio. E sussurrai-o aos desesperados ou aos que desistiram do amor: Tende paciência, tende esperança, fazei como Maria, rezai, actuai, abri o coração porque o melhor dos vinhos vai chegar. Deus sempre Se aproxima das periferias de quantos ficaram sem vinho, daqueles que só têm desânimos para beber; Jesus sente-Se inclinado a desperdiçar o melhor dos vinhos com aqueles que, por uma razão ou outra, sentem que já se lhes romperam todas as talhas.

Como Maria nos convida, façamos «o que o Senhor nos disser» Fazei o que Ele vos disser. E agradeçamos por, neste nosso tempo e nossa hora, o vinho novo, o melhor, nos fazer recuperar a alegria da família, a alegria de viver em família. Assim seja.

Que Deus vos abençoe e acompanhe! Rezo pela família de cada um de vós, e vós fazei o mesmo que fez Maria. E, por favor, peço-vos que não vos esqueçais de rezar por mim. Até ao regresso!

Original: espanhol. Tradução introd: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

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