Posted On 2016-12-28 In Artigos de Opinião

Que este Natal alargue o nosso coração, o abra, o faça mais universal, que sejamos uma Igreja e um Schoenstatt em saída

Saudação de Natal do Pe. Juan Pablo Catoggio aos seus irmãos e amigos •

Com muita alegria partilhamos a carta do Pe. Juan Pablo Catoggio, mostrando o dom e a tarefa da internacionalidade e da interculturalidade do nosso Schoenstatt, no quadro do Natal como acontecimento de um Deus em saída.

Queridos irmãos e amigos,

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Duas experiências marcaram este ano e, ambas estão muito unidas ao mistério do Natal: o Jubileu da Misericórdia e a realidade internacional que me calhou viver através de muitas viagens.

 

1 “Este é o tempo da misericórdia”, não se cansa de repetir o Papa Francisco. O Pe. Kentenich insistiu nos seus últimos anos de vida na mensagem do “Pai de um amor infinitamente misericordioso”. O Ano Jubilar foi, realmente, um tempo de graças para toda a Igreja e, também, para Schoenstatt. Muitos Santuários foram escolhidos, formalmente, como Portas Santas de misericórdia, o Santuário Original e muitos outros. Se sempre são lugares de graças, este ano foram-no duplamente. S. Paulo escreve ao seu discípulo Tito que “a misericórdia de Deus, fonte de salvação para todos, se manifestou”. (Tit 2,11). Natal é o mistério da misericórdia encarnada, do próprio Deus Amor feito homem.

 

2 Calhou-me viajar muito este ano, visitei 15 países diferentes, em quatro continentes. A própria Comunidade dos Padres de Schoenstatt cresce em novos âmbitos culturais (novos para Schoenstatt) como na Índia ou no Burundi, Congo ou Nigéria em África. E, cresce mais lá que nos países “tradicionalmente schoenstatteanos”, se é que se pode dizer assim. Faz-me refletir sobre muitas coisas. Quanta variedade e riqueza há nas diversas culturas, quantas tradições e costumes diferentes. Primeiro ensinamento: Deus não é aborrecido, gosta das cores e da variedade, Segundo ensinamento: não há que ter medo das diferenças (e ainda menos dos diferentes!) são uma riqueza para uns e outros, para todos. Terceiro ensinamento: devemos aprender uns com os outros, enriquecermo-nos e complementarmo-nos mutuamente e, para isso, devemos encontrar-nos, dialogar, sentarmo-nos à mesma mesa, com o mate ou o que seja típico em cada lado. Quarto ensinamento: Schoenstatt é universal como a Igreja, nenhuma cultura o pode monopolizar, Schoenstatt deve ser a alma de todas as culturas e, em todas as culturas se deve encarnar, inculturar. Quinto ensinamento: esta é a cultura do Encontro e da Aliança que Schoenstatt quer viver e anunciar e, para isso, deve “sair de si próprio” e “sair ao encontro”.

 

Até aqui, referi-me à internacionalidade e interculturalidade que caracteriza a minha Comunidade nesta etapa, que é, ao mesmo tempo, um grande dom e um desafio. Mas, o percorrer tantos países fez-me ver que é uma missão – um dever incontornável – que temos. O mundo debate-se, contraditoriamente, entre uma globalização crescente e irrefreável e uma tendência nacionalista, protecionista a qualquer preço, até mesmo separatista que, não poucas vezes deriva em conflitos abertos, discriminação e intolerância, guerra, violência e terror. Como encontrar ou criar caminhos de encontro, de unidade na diversidade, de diálogo respeitador e de mútua complementação?

Ao contemplar o mistério do Natal não posso deixar de destacar esta dimensão universal. Ao pormenorizar a genealogia de Jesus, Lucas e Mateus destacam a transcendência histórica do facto, aparentemente, insignificante de Belém. Mateus menciona especialmente os Magos do Oriente. Os povos longínquos vêm adorar o Rei no Presépio. Lucas dá mais pormenores. José e Maria devem ir a Belém pois o Imperador César Augusto decretou “ um recenseamento para toda a gente”. Por isso, José deve “sair” de Nazaré. E, “enquanto estavam em Belém completaram-se os dias para dar à luz; e Maria deu à luz o Seu Filho primogénito, envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 6-7). Pouco tempo depois “saem” de novo, desta vez para o Egípto, país estrangeiro. A Família de Jesus é emigrante, poderíamos hoje dizer refugiados. Eles estão “em saída”, saem de Nazaré, saem de Belém, saem da sua terra.

Podemos ir mais longe. A Encarnação é o mistério de “Deus em saída”. Jesus, o Filho, não se agarra à Sua condição de Deus, mas, “sai” do Pai, “esvaziou-Se e rebaixou-Se a Si próprio e fez-Se homem como um de nós (Fil 2, 5-8), assumindo a nossa natureza, unindo- se a cada Homem e a todos os Homens, a cada cultura e a todas as culturas.

O Natal não conhece fronteiras. O Natal aproxima-nos e faz-nos irmãos. “Agora, em Jesus Cristo, vós, os que anteriormente estáveis longe, fostes aproximados…Porque Cristo é a nossa paz: Ele uniu os dois povos num só, derrubando o muro da inimizade que os separava…Ele veio proclamar a Boa Nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, paz também para aqueles que estavam próximos…Portanto, vós já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e dos membros da Família de Deus” (Ef 2, 13-19). Irmãos, todos temos os nossos problemas com “algumas diferenças” e “alguns diferentes”, todos pomos certas barreiras, fazemos diferenças. Desejo a mim próprio e a todos vós que, este Natal alargue o nosso coração, o abra, o faça mais universal, que sejamos uma Igreja e um Schoenstatt “em saída”, que saiamos de nós para o nosso vizinho, em direcção aos que estão longe e aos que estão perto, até às periferias, até aos muitos novos Beléms da nossa época, para que, todos sejamos “próximos-próximos” para que todos sejamos irmãos. Junto-vos um poema de Borges que me acompanhou este ano. Compreenderão porquê. Lembro-vos na Noite de Natal, no Belém do Santuário Original, vosso

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Pe. Juan Pablo

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Jorge Luis Borges  (1899 em Buenos Aires – † 1986 em Genebra)

Os Conjurados (1985)

No centro da Europa estão conspirando.

O facto data de 1291.

Trata-se de homens de diversas estirpes que, professam diversas religiões e que falam em diversas línguas.

Tomaram a estranha resolução de serem razoáveis.

Resolveram esquecer as suas diferenças e acentuar as suas afinidades.

Foram soldados da Confederação e depois mercenários, porque eram pobres e tinham o hábito da guerra e não ignoravam que todos os empreendimentos do Homem são igualmente vãos.

Foram Winkelried que crava no seu peito as lanças inimigas para que os seus camaradas avancem.

São, um cirurgião, um pastor ou um procurador, mas também, são, Paracelso e Amiel e Jung e Paul Klee.

No centro da Europa, nas terras altas da Europa, cresce uma torre de razão e de firme fé.

Os cantões agora são vinte e dois. O de Genebra, o último, é uma das minhas pátrias.

Amanhã serão todo o planeta.

Talvez o que digo não seja verdadeiro; oxalá seja profético.

Original: espanhol. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

 

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