Posted On 2016-03-29 In Artigos de Opinião

Páscoa do Senhor, Páscoa de Misericórdia

Pe. Oscar Saldivar, Quinta-Feira Santa 2016 – Ano C •

Queridos irmãos e irmãs:

Com a celebração da Missa Vespertina da Ceia do Senhor iniciamos o Santo Tríduo Pascal, “no qual Cristo sofre, repousa no Sepulcro e Ressuscita”[1]. Deste modo, esta Celebração da Quinta-Feira Santa é uma introdução, simbólica e efectiva, no mistério pascal de Jesus Cristo e, por isso, a nossa própria Páscoa também.

A Páscoa do Senhor

Na Liturgia da Palavra do Livro do Êxodo são-nos contados os preparativos do Povo de Israel para “a Páscoa do Senhor”. Após, serem dadas, com exactidão. as indicações para a ceia ritual – escolha do animal a ser sacrificado, características do mesmo, sinalização das portas, modo de comer a carne, os pães ázimos e as ervas amargas – o texto insiste firmemente: “É a Páscoa do Senhor. Esta noite passarei pelo país do Egípto…Eu, sou o Senhor” (Ex 12, 11b-12).

É a Páscoa do Senhor. Trata-se da sua passagem salvífica pelo meio do Seu povo[2]. A Sua passagem é salvação e libertação para os que creem n’Ele.

Israel deve estar preparado para esta “passagem” do Senhor e, deve estar preparado para O seguir, ir atrás dos Seus passos, das Suas pegadas. O comer “com os rins cingidos, calçados com sandálias e com o cajado na mão” (Ex 12,11), demonstra a atitude dos homens e das mulheres que estão dispostos a partir, para seguirem o seu Senhor, para serem “povo em saída”, “povo peregrino” que segue a Páscoa do seu Senhor.

A Páscoa do Senhor nas nossas vidas

Assim como, Israel devia estar preparado para a Páscoa do Senhor, também a Igreja – novo Israel – deve estar preparada para a passagem do Senhor. Sim, cada um de nós, deve estar preparado para se aperceber da passagem do Senhor pela sua vida.

Na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo lembra-nos: “todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha” (1 Cor 11,26).

Também nós, os cristãos, lembramos e celebramos a Páscoa de Cristo: a Sua passagem da morte na Cruz, para a Vida plena da Ressurreição. A Páscoa definitiva, a passagem definitiva. Anunciamos a Sua morte e Ressurreição, esperando a Sua vinda gloriosa.

Do mesmo modo, a Eucaristia e a passagem de Jesus pela nossa vida. Como, lindamente, o expressa, uma oração do Pe. Kentenich: “Tu, Pai, enviaste o Filho como penhor do Teu amor (…) Por amor Ele se entrega como alimento de sacrifício sobre o altar. Aí, Ele quer reinar sempre e habitar bem junto de nós” [3]. “Assim como reinas no Céu e habitas glorioso junto do Pai, estás inteiramente com o Teu ser no santuário do meu coração”[4]. “É a Páscoa do Senhor”.

Páscoa de Misericórdia

Finalmente, na “Sua hora da passagem deste mundo para o Pai” (Jo 13,1), Jesus mostra-nos que, a Páscoa do Senhor, é Páscoa de Misericórdia. Tirando o manto e lavando os pés aos discípulos (cf. Jo 13, 4-5), jesus mostra-nos que, a Sua passagem pelas nossas vidas, é sempre, uma passagem de misericórdia. Ele despoja-se de Si próprio, inclina-Se perante nós e lava-nos os pés.

Por isso, ao iniciarmos o Tríduo Pascal far-nos-á bem lembrarmo-nos de todas as vezes que o Senhor Jesus passou pelas nossas vidas tendo misericórdia para connosco. Em tantas pessoas e acontecimentos da nossa vida esteve Jesus ajoelhado aos nossos pés, lavando-os e curando as nossas feridas: no Sacramento da Reconciliação; na visita dum amigo; numa correção fraterna; no amor silencioso e quotidiano dos nossos entes queridos; numa palavra do Evangelho; num impulso interior do Espírito que me trouxe paz e misericórdia. Cada um, relembre esse momento de misericórdia e diga no seu coração: “É a Páscoa do Senhor”.

E, se o Senhor passou pelas nossas vidas com a Sua misericórdia, é para que, com os pés limpos e o coração renovado, O sigamos a Ele na Sua Páscoa, fazendo o bem aos outros: “Ora, se Eu o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também” (Jo 13, 14-15).

Sim, fazendo o mesmo que Jesus fez – nesta celebração e, sobretudo, na nossa vida quotidiana – vamos seguindo as Suas pegadas, os Seus passos e caminhamos atrás d’Ele rumo à Páscoa definitiva, a Ressurreição.

Que Maria, Mater Misericordiae, anime o nosso caminhar atrás do Seu Filho, para que, a nossa passagem pela vida dos nossos irmãos, seja, também, Páscoa do Senhor, Páscoa de misericórdia. Amén

[1] CONFERÊNCIA EPISCOPAL ARGENTINA, Missal Romano Quotidiano (CEA, Oficina del Libro, Buenos Aires 2011), 470
[2] X. LÉON-DUFOUR, Vocabulário de Teologia Bíblica, «Páscoa» (Herder, Barcelona 1993), 647.
[3] Pe. JOSÉ KENTENICH, Rumo ao Céu, estrofes 50-51 (Portugal, 1991)
[4] Cf. Pe. JOSÉ KENTENICH, Rumo ao Céu, estrofe 143 (Portugal, 1991).

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Original: espanhol. Tradução: Lena Castro Valente, Lisboa, Portugal

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