Posted On 2015-10-20 In Artigos de Opinião

Uma Época Sedenta de Pais

Por Matías Rodríguez/Universitários de Campanario – via www.jmschoenstatt.cl

No século passado, o Padre Kentenich afirmava que se vivia numa época sem pais. As diversas crises que estamos a atravessar hoje têm uma grande relação com esta falta de paternidade. A liderança, o acolhimento, a responsabilidade pelos seus, e uma educação na liberdade e no amor são características de um pai que já não se vê nas nossas famílias, instituições e autoridades.

Agora podemos ir mais além do que afirmou o Padre José Kentenich e dizer que estamos numa época sedenta de pais. Precisamos de pais nas nossas famílias que possam enfrentar, saudavelmente, as tensões de um mundo que pede mais e mais. Necessitamos de pais para aconselhar aqueles amigos e irmãos sofridos e necessitados. Precisamos de pais na nossa política que saibam guiar o nosso país, que possam tomar as rédeas das instituições e que com a sua liderança nos conduzam a um futuro melhor. Precisamos de pais para as nossas crianças, que saibam educá-los nos valores da liberdade e do amor. Enfim, precisamos de pais para responder aos desafios do mundo de hoje, e em especial, aos desafios do Chile de hoje.

Uma carência de pais

Quais são estes desafios? Diversos estudos no Chile dão-nos uma demonstração clara do que parece ser uma falta no sentido de ser filho, e portanto, de uma má paternidade. Assim, vemos que 25% das crianças são objeto de abuso intra-familiar, maus-tratos, abandono ou falta de estímulo. Do mesmo modo, 28% da população infantil entre os 4 e os 11 anos manifesta patologias psiquiátricas. Que sociedade estamos a construir para os nossos filhos? Todas estas más experiências de filho, (maus-tratos, falta de pertença, abandonos, falta de segurança e confiança) poderiam traduzir-se, no futuro, numa rejeição de uma grande quantidade de pessoas a assumir o seu papel de pais com a sociedade, com a sua família e com eles próprios. Por isso chegamos ao facto de 47% da nossa população penal começar a ser delinquente aos 13 anos. Tudo isto é sintoma de uma doença que acomete a nossa sociedade: uma carência de pais.

Uma renovação do mundo através da renovação do pai

Parece que estamos num círculo vicioso de que nunca sairemos. O Chile de hoje clama por uma renovação na sua paternidade. O Padre Kentenich pensava como caminho “surgir novamente de maneira eminente uma época com consciência paternal e uma renovação do mundo através da renovação do pai”. Mas, de que pais estamos a falar? Um pai é aquele que engendra vida, que desperta o melhor de outra pessoa. É aquele que se torna responsável dessa vida e faz nascer nela a liberdade. Esses pais são os que precisamos hoje em dia, aqueles que não descartam ninguém porque veem em cada pessoa um grande potencial para educar.

Precisamos de homens dispostos a assumir o seu papel de paternidade na sociedade e, mais ainda, homens dispostos a criar vínculos, o pontapé inicial em toda a relação humana. Talvez o primeiro passo para ir ao encontro do outro e reconstruir pontes, mas fazê-lo não é assim tão simples, porque requer abrir o coração, entregar confiança às cegas, e ter ainda a possibilidade de sofrer. O encontro com o outro é um risco, mas é o que o nosso país necessita, é o passo para uma melhor sociedade numa época sedenta de pais. Devemos tornar-nos responsáveis pelos que se vinculam a nós, pela vida que engendrámos noutros, sem descartar ninguém, mas acolher todos e, mais importante ainda, sendo pais para todos.

Fonte – jmschoenstatt.cl en alianza comunicativa. Al servicio de todo Schoenstatt.
Foto acima: iStock/Getty Images, © noblige. Licencia para schoenstatt.org
Original: espanhol. Tradução: Maria de Lurdes Dias, Lisboa, Portugal

 

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