Posted On 2015-10-08 In Artigos de Opinião

A cultura da Aliança em um drama do século XXI

Por Rafael Mota e Otávio Cesarini Ávila, JUMAS Brasil, www.jumasbrasil.com.br •

O número de refugiados que parte do norte da África e da Síria, fugindo de situações que ferem os direitos humanos como a miséria e a guerra, chamou a atenção e sensibilizou o mundo nos últimos dias. A expectativa de pisar em solo europeu, por vezes é interrompida e frustrada de maneira dramática: dos 71 imigrantes mortos e abandonados em um caminhão na Áustria ao menino morto na praia turca.

Como nós schoenstattianos e parte do Jumas devemos nos colocar diante destes acontecimentos? Otávio Cezarini Ávila traz para nós uma reflexão sobre o tema. Ele foi do Jumas em Ibiporã, hoje está em Curitiba onde faz mestrado em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná em uma interface entre a comunicação, a cultura e as migrações contemporâneas.


 

O Movimento de Schoenstatt no mundo vive um misto de alegria e tristeza neste início de setembro. A alegria vem de nós mesmos, com as significativas notícias de nossos sacerdotes em um encontro particular com Francisco, o qual reforçou o pedido que fará ao mundo no próximo ano: ser testemunhas da misericórdia. Se esta esperança enche os corações schoenstattianos, do outro lado da moeda é impossível não se colocar em luto quando recordamos as vidas refugiadas que escapam pelas águas mundo afora.

Aylan

A morte que mais chamou a atenção do Ocidente foi a do pequeno Aylan, sírio de 3 anos, encontrado morto na costa marítima do sul da Turquia no último dia dois (2), ironicamente, fugindo da morte pela guerra síria. Mas não foi apenas Aylan que perdeu seu futuro: seu irmão, sua mãe e mais 2,5 mil pessoas – só no Mar Mediterrâneo este ano – não conseguiram chegar à terra firme em busca de condições dignas de vida e de paz.

Embora seja chocante, a imagem do menino morto na praia aciona a solidariedade internacional pelo destino destes 300 mil humanos que se deslocaram em 2015, até agora. Os questionamentos sobre a “morte da civilização na beira da praia” alinham-se à ausência da misericórdia empregada pelo Estado Islâmico e os muros que se erguem pela União Europeia esquecendo ela que há uma só raça quando se fala em humanidade. Mas, se há desesperança, a Igreja evoca suas virtudes teologais clamando por fé, esperança e caridade e contando com a cultura do encontro para suprir as barreiras físicas e espirituais contemporâneas.

Migrantes e refugiados nos interpelam: a resposta do Evangelho da misericórdia

Por diversas vezes, o Papa expressa seus sentimentos por este drama humanitário. Seja em sua primeira declaração expressiva pelas mortes na Ilha de Lampedusa, seja na firme crítica ao “assassinato” que é não prestar auxílio a migrantes e refugiados, o Papa deixa claro que para a Igreja não existem fronteiras geográficas quando há vidas em jogo. Como de costume, a Igreja celebra pelo 102º ano o Dia dos Migrantes e Refugiados, sendo que, em 2016, o tema será: “Migrantes e refugiados nos interpelam: a resposta do Evangelho da misericórdia”.

Como já salientado acima, a misericórdia estará presente em todo este ano santo. Famílias, jovens, migrantes, sacerdotes e toda a Igreja estão convidados a reforçar este espírito em um mundo ainda impiedoso.

E do mesmo modo que a Igreja está próxima à questão migratória, Schoenstatt está próximo à Igreja, ao Papa, como as fotos de nossos assessores com Francisco mostraram. Mas o texto, que começou com um fato animador à Família de Schoenstatt, transforma-se em desafio quando percebemos estes dramas atuais.

Um Movimento em constante movimento

Se a realidade migratória, especialmente a que toca aos refugiados parece-nos ser distante, basta lembrarmos que Schoenstatt é um Movimento em constante movimento, que ameaçado por forças totalitárias migrou pelo mundo, enraizando-se, encontrando-se com culturas e formando alianças.

Como um bom filho da guerra, Schoenstatt atravessa oceanos e vai buscar abrigo em novos territórios, sem esquecer suas raízes, assim como os milhares de refugiados que acompanhamos atônitos pelos jornais. Esta internacionalização do Movimento e o rompimento de fronteiras da Aliança fazem eco à crítica ao individualismo, tecida pelo Pe. Kentenich, que diagnostica a atomização social ao tornar o irmão em outro pelas inúmeras barreiras que a formação dos Estados nacionais incorporou à modernidade.

Neste sentido, Schoenstatt apresenta itens interessantes de sua pedagogia como possibilidades de gestar uma cultura da aliança neste mundo de diferenças. Por exemplo, o Pe. Kentenich anuncia a necessidade do vínculo paterno-filial no organismo de vinculações como maneira de estabelecer relações respeitosas entre humanos. Esta organicidade ainda encontra referência com o Papa Francisco, que ressalta a “ecologia integral” como forma de vida a qual estabelece harmonia entre os diversos elementos da nossa “casa comum”.

O Santuario Original, uma casa comum

Como exemplos desta familiaridade misericordiosa, pudemos observar recentemente a leitura da fé prática pelo Movimento de Schoenstatt da Alemanha ao acolher diversos refugiados em sua terra. Pelo que foi noticiado pelo site internacional de Schoenstatt, nos dias 22 e 23 de agosto o espaço do Santuário Original foi transformado em uma verdadeira “casa comum” através de um bonito Festival Internacional realizado com refugiados e religiosos. No relato do Pe. Franz Widmaier, estavam, ao seu lado, “um sírio, um muçulmano, com uma vela na mão…”, agregando a cultura da Aliança à cultura do encontro.

Schoenstatt, sejamos claros, não deixa de fazer sua obrigação como Igreja em sua finalidade de servir aos demais, mas somando-se a tantos outros órgãos cristãos o Movimento consegue redimensionar sua cultura para fora de seus muros, tornando-se global no local e, sobretudo, unindo necessidades atuais a respostas originais: a misericórdia através da organicidade dos vínculos humanos.

Se o espírito paterno-filial for traduzido nestas novas formas de sociabilidade, a vida não chegará morta na beira da praia. Aylan e sua família estarão vivos em nós, assim como outros irmãos mais debilitados que o cotidiano nos encarrega de mostrar. O drama migratório carrega consigo a desvalorização do próprio ser humano. Schoenstatt caminha com a Igreja, que acentua a organicidade da vida e, especialmente neste próximo ano, clama por misericórdia. Desafios que as notícias do início de setembro nos trazem para gestar a cultura da aliança neste novo século.

O que podemos fazer como Jumas?

  • Com a mão no pulso do tempo, ler as notícias sobre migrantes e refugiados pelo mundo e discutir em nossos grupos de vida com o olhar da misericórdia;
  • Ler a carta ao “Dia do Migrante e Refugiados” que o Vaticano lançará em breve;
  • Dedicar orações para a causa dos refugiados, pedindo pelo fim da guerra e pobreza em seus países;
  • Como atividade do grupo de vida, buscar os antepassados de cada família e as histórias de superação de possíveis familiares migrantes;
  • Descobrir se na cidade existem migrantes, ir até a paróquia ou ao Santuário ver se há atividades para estas pessoas e pensar em projetos de acolhida, como missas em diferentes idiomas ou um futebol com estrangeiros.
Fonte: www.jumasbrasil.com.br

Otávio Cesarini Ávila: Três perguntas… sobre o Schoenstatt do segundo século da Aliança de Amor (34)

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